O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), talvez seja
lembrado pela história como um pequeno líder que não soube medir o tamanho de
sua liderança e resolveu, ao tentar salvar a própria pele, desafiar forças
muito mais poderosas que ele. Não se deu mal ainda, mas dificilmente sairá
ileso do episódio de rompimento com um governo que seu partido apoia.
Fazer discursos e votar em alguns casos contra o governo, a
turma dele no PMDB até topava. Mas perder os cargos e as boquinhas que o
Planalto concede em troca dos apoios costumeiros, é demais para qualquer membro
do PMDB e, ainda mais, para o baixo clero, ao qual a maioria dos que apoiam
Cunha pertence. De resto, o próprio perfil de Cunha não deixa dúvida de que seu
voo pode se assemelhar ao das galinhas: sua base é frágil, construída sobre
favores financeiros (legais, pelo que se sabe, pois influenciou empresários a ajudarem
candidaturas) e religiosos (ele é evangélico). Sabe falar bem, é inteligente,
mas não tem o encanto primário que líderes necessitam para sobreviver.
Mas há outro lado da história que pode salvar sua imagem: ao
desafiar o Planalto, ao romper pessoalmente com Dilma e asseclas, vai provocar
um boa onda de dificuldades para o governo se recompor e, dependendo do tamanho
dessa onda, ela pode influenciar outras instâncias a tomarem as atitudes que o
país está reclamando e que podem afastar o PT do poder. A favor de Cunha está o
fato de que seu partido seria o maior beneficiado num fim tempestivo do governo
petista: ou assume o vice Michel Temer para cumprir o restante do mandato, ou
assume ele mesmo, Cunha, para convocar
eleições em 60 dias.
E há ainda outro detalhe que vai contribuir ainda mais: a
dificuldade ao governo imposta pela Câmara (e boa parte do Senado) fará também com
que a máquina fique emperrada. Sem medidas rápidas e eficientes, a inflação
continuará subindo, os preços idem, o desemprego aumentando e a insatisfação geral
da população com o governo petista poderá crescer mais ainda do que estão
aferindo as pesquisas. E olha que Dilma bateu todos os recordes de rejeição, ao
conseguir apenas 7,7% de aprovação na consulta mais recente.
Com a máquina emperrada, com CPIs ululando, com o Judiciário
se sentindo mais livre pela fraqueza do governo, com as denúncias aumentando diariamente,
a multidão que sentirá vontade de protestar nas ruas, no próximo 16 de agosto,
poderá superar todos os recordes. E dará a certeza a todos os que têm algum
poder no Brasil que a única solução é afastar de vez o PT do comando, pois só
assim o caminho para a recuperação será retomado.
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