Juca Kfouri era simpatizante do PSDB. Quando FHC foi eleito,
conversou com ele sobre Pelé ser ministro dos Esportes. A conversa deu certo.
Mas, parece que Kfouri
virou simpatizante do PT e passou a defender, entre outras aberrações, a tese
de que o impeachment, previsto na Constituição e totalmente referendado por
grandes juristas e pela mais alta corte de justiça do país, é golpe.
E querendo dar uma de comentarista político, escreveu pequeno artigo no UOL, onde desfila uma porção de bobagens que
mais parecem saídas do Instituto Lula que da cabeça de um jornalista que dirigiu a
revista Playboy na sua melhor fase.
O título - “Golpe consumado! E agora?” - já mostra que o mentiroso mantra petista, repetido
à exaustão sem conseguir adquirir ares de verdadeiro, será o mote do
artigo: A melhor resposta à pergunta do título seria
aquela que dizíamos quando criança e que aprendemos com os adultos: “Caga na
mão e joga fora”. Mas vou me conter.
Ele começa dizendo que o “impeachment triunfou na mão do grande
Eduardo Cunha e provavelmente triunfará também no Senado”. O “grande” é ironia, claro, afinal Eduardo
Cunha é acusado de vários crimes e, se tudo correr bem, será cassado. Curioso é
que ele personaliza a Câmara, mas não o Senado, na figura de Renan
Calheiros, que deveria ser chamado de “grande” também e por mais razões que Cunha. Mas o
petismo vê em Renan a possibilidade de conseguir protelar ao máximo o processo,
dando tempo para que as tenebrosas transações de Lula e Dilma surtam algum
efeito. Então Renan é poupado por Juca.
Aí vem uma crítica “construtiva” ao PT: “O governo petista
colhe o que plantou. Quis ensinar prostituição no prostíbulo e deu nisso: Zé
Dirceu está preso e Roberto Jefferson solto. Noviças deveriam saber que não
podem frequentar as festas de uma casa de tolerância com mais de 500 anos”.
Sim, o PT colhe o que plantou, mas Juca não cita o que foi plantado. Eu
cito: corrupção, incompetência e traições várias, tanto entre seus pares como
em relação aos aliados. Coisas típicas de quadrilha mesmo, até a “lei da ormetá”,
o silêncio da Máfia italiana, praticado por gente como Marcos Valério, Vaccari,
Zé Dirceu e outros.
Já ensinar prostituição no prostíbulo foi o que a gente viu
com o Mensalão e o Petrolão, por exemplo: práticas corruptas gigantescas que
assombraram o mundo. Nunca, na história da humanidade, um governo institucionalizou
a tal ponto a conduta bandida de seus agentes. Isso Juca não diz, mas eu digo e
foi o que o PT “ensinou” ao Brasil: transformou a corrupção em prática de governo.
A outra frase do parágrafo é provocada pelo petismo na sua melhor forma. Parece bonito dizer que Zé Dirceu está preso e Roberto Jefferson solto, como se esses fatos denotassem uma
injustiça. Errou feio, Juca: Dirceu está preso porque, depois de cumprir pena
pelo Mensalão, voltou a roubar dinheiro público durante o Petrolão. E Jefferson
está solto – legalmente solto – porque já cumpriu sua pena. Simples assim.
As frases seguintes soam como sermão da madre superiora às
freirinhas no convento: “Quem negocia princípios paga caro e por isso o PT
também virou símbolo de roubalheira, como quase todos os demais partidos. Quem
fez de Michel Temer vice-presidente, lembremos, foram os acordos do PT. A
governabilidade não pode ser fruto de acordos espúrios, porque, na hora agá, a
traição é inevitável. Incrível a ingenuidade dos petistas e terrível constatar
como se lambuzaram.”
Mas o sermão está cheio de erros. O PT jamais
negociou princípios, porque jamais teve princípios a negociar. Chegou ao
governo com um plano de poder eterno e o resto foram negociatas para manter
esse plano. Virou símbolo de roubalheira porque pregava honestidade sem nunca
ter sido honesto. E ingênuo não foi o PT e sim quem com ele fez acordos, muitos
não cumpridos, causando debandadas na base aliada.
Em frente. “É bem possível que, como aconteceu com Dilma
Rousseff que não governou desde que foi reeleita porque a oposição não deixou,
Michel Temer também não governe porque os movimentos sociais não deixarão. Protestos,
greves, ocupações, manifestações, é de se prever que o país continue
convulsionado, num cenário nada propício a botar ordem na casa”
Não Juca, a oposição jamais teve maioria para impedir Dilma
de governar. Ela não governou porque mentiu na campanha, porque não sabe governar, nunca
soube, é um poste que Lula, com sua demagógica popularidade, elegeu para continuar
ele mesmo governando. Se Temer fizer maioria – e tudo indica que fará – tem condição
de botar a casa em ordem e tentar reconstruir o que o PT destruiu. As greves são previstas e regulamentas por lei. Quem não segui-las, pode sofrer sérias consequências. A baderna
das ruas pode ser contida pela melhoria na economia ou, se for o caso, pelo
braço forte e constitucional das democracias que são, no nosso caso, as polícias militares.
Em seguida é revelada a razão principal do artigo: “Quem sabe se forem convocadas novas eleições o panorama mude. Será o
ideal e, sem submissão à ilegitimidade ora imposta, o papel dos democratas é o
de lutar para abreviar a aberração Temer/Cunha/Jucá/Aécio, todos citados nos
escândalos da corrupção que dizem combater.”
É a tese petista da hora. O PT, animado por uma suspeita
pesquisa do Datafolha (outras pesquisas não confirmam favoritismo de Lula,
muito pelo contrário), quer se livrar de Dilma já, pois acha que, em outubro,
Lula poderia ser eleito novamente. Alguém precisa avisar Juca que eleição presidencial
fora de hora exige mudança na Constituição que, por sua vez, exige os mesmos
342 votos que aprovaram o impeachment. Votos que terão de ser dados por deputados
que terão seus mandatos cortados pela metade se a emenda for aprovada. O PT tem, se muito, menos de 140 votos na Câmara. Não
passa. E nem seria bom para o Brasil nesse momento.
A citação do quarteto – onde ele inclui até Aécio Neves, comme
il faut a todo bom petista, como um
perigo para o Brasil, pois foram todos citados em escândalos de corrupção - é
típico de quem sabe a verdade, mas escreve uma farsa para provar sua tese.
Se se trata de uma “aberração” ter esses nomes no governo,
pois foram citados em escândalos, o que dizer, né Juca?, do atual governo? Alguma
vez você escreveu que o governo Dilma era uma aberração por causa da corrupção?
Mais de uma dezena de ministros envolvidos em escabrosos casos, citados
por delações premiadas. Os tesoureiros todos do partido que está no poder (e os
petistas não distinguem o Estado do partido) foram presos. A cúpula do partido
foi condenada por corrupção. As eleições - inclusive a última -
tiveram malas e malas de dinheiro
roubado da Petrobras e de obras do governo. O chefe maior do partido e presidente de fato
está sendo investigado por enriquecimento ilícito, ocultação de patrimônio, corrupção
passiva e ativa e tráfico de influência. E, provavelmente, será também por formação de quadrilha. Mas Juca, para justificar a tese de “eleições
já” vê perigo num quarteto sobre o qual pesam acusações que não chegam nem aos
pés dos crimes praticados por muito mais gente do atual governo.
Último parágrafo do artigo: “Como será o ideal que um novo governo
eleito pelo povo, de cara, promova a reforma política e crie a figura da
rechamada, do recall para que eventuais novas destituições de cargos
majoritários sejam menos traumáticas.”
Ele acha ideal que se promova a reforma política. Eu também acho, mas o PT jamais
achou, porque percebendo as vantagens que poderia extrair do atual sistema,
sentou sobre ele durante 13 anos. Não sei porque Temer não poderia fazer a reforma política. Basta
ter vontade, já que melhores condições que Dilma ele tem de sobra.
Já essa história de “rechamada” que ele deixa claro ser uma
tradução de “recall”, deve ser a consulta ao povo para aprovar ou não o que um
governo está fazendo. Não deu certo em lugar nenhum, a não ser em pequenas
prefeituras, já que, dependendo da circunstância, a opinião pública é maleável e
pode não refletir a realidade. Melhor seria instituir o parlamentarismo.
Enfim, vou continuar achando que Juca entende mais de
mulher pelada e de futebol que de política. Mas como é uma pessoa inteligente, temo
que se trata de mais um caso onde a opção político-partidária acabou por
embotar os sentidos.