terça-feira, 14 de julho de 2015

Campinas merece mais que factoides

Estão cheios de boas intenções os projetos de leis e decretos que o prefeito de Campinas, Jonas Donizette anunciou hoje, aniversário da cidade. As boas intenções são acabar com as pichações, multar quem joga lixo nas ruas ou em local impróprio e retirar e leiloar carros abandonados nas vias públicas e multar os proprietários. Mas, dessas medidas, temo que apenas uma delas passe das boas intenções.

As pichações existem há mais de 15 anos na cidade e, nesse tempo todo, só aumentaram. E aumentaram mesmo tendo leis que punem os pichadores e que proíbem a venda de sprays para menores. Ou seja, as leis que o prefeito está anunciando já existiam e falharam. Motivo? Nunca houve fiscalização suficiente, nem como repressão aos pichadores nem contra os donos de estabelecimentos que vendem sprays para menores.

Os comerciantes são difíceis de pegar. Primeiro porque pode haver maiores de idade comprando sprays de tinta para menores. E, segundo, documentos falsos são fáceis de se adquirir por aí. E, claro, ao comerciante interessa mais vender do que ficar verificando se o documento é falso.

 Os pichadores são até fáceis de pegar, desde que haja equipes de inteligência e de ação nas ruas. A inteligência poderia se infiltrar em grupos de pichadores – nas redes sociais deve haver vários deles – e outras equipes vasculhariam a cidade durante toda a noite em busca desses imbecis com tubos de sprays entre as patas que tanto sujam a cidade. Só que nunca houve equipes de inteligência e, muito menos, patrulhas da Guarda Municipal específicas para pegar pichadores. Vai haver? Duvido. Os cofres estão combalidos com a diminuição de arrecadação e operações constantes desse tipo não são baratas. Gostaria de ser desmentido, mas denunciei o horror das pichações há mais de dez anos, quando escrevia no Correio. De lá pra cá foram atualizadas leis, foram feitos discursos, foi dito mais de uma vez que o governo – de Izalene Tiene (PT) ou de Hélio de Oliveira Santos (PDT) – ia acabar com a farra, mas nada ocorreu.

A multa para quem joga lixo na rua me parece a mais exótica de todas. Como ela inclui até tocos de cigarro, dá pra imaginar que milhares de pessoas cometem essa infração diariamente. E se o cidadão está andando na rua e o cigarro acaba, onde jogar? Naqueles equipamentos para lixo que há na cidade, de plástico, será um perigo, pois podem incendiar. Será que o prefeito vai dotar a cidade inteira de cinzeiros públicos? Se não tiver onde jogar, o cidadão não pode ser multado, a não ser que ele carregue uma embalagem própria para guardar tocos de cigarro. Sem contar que dificilmente vai haver fiscal e/ou guarda municipal para todo mundo, afinal Campinas tem mais de um milhão de habitantes e se espraia em dezenas de quilômetros.

Por fim, retirar carros abandonados das ruas me parece ser a única medida do pacote que pode ser cumprida. É só contratar alguns guinchos e arrumar um lugar para depositar essas latas velhas. E depois leiloar para conseguir algum dinheiro que pelo menos compense o que foi gasto com a retirada, o depósito e o leilão. Caso contrário, o cidadão que paga impostos é que estará pagando para o governo se livrar desses lixos estacionados por aí.

Enfim, das três medidas anunciadas com grande pompa no dia do aniversário da cidade, acho que apenas uma não é um daqueles factoides que tanto temos presenciado nos últimos 10 ou 15 anos. E, sinceramente, Campinas merecia mais que factoides no dia do seu ducentésimo quadragésimo primeiro aniversário. 

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