Durante o corrupto governo de Hélio de Oliveira Santos (PDT), em Campinas, era comum o anúncio de grandes obras que jamais saíram do papel. A
revitalização do Centro, o centro de convenções, a volta do VLT, a ampliação e
reforma de Viracopos (essa só correu depois da privatização), a reforma do
Centro de Convivência e do Castro Mendes, um novo teatro no Centro da cidade e
muitas outras. Eram anunciadas com grande alarde, o Correio Popular publicava
na primeira página e ficava nisso.
Pois o atual governo de Campinas, agora nas mãos de Jonas
Donizette (PSB), parece que também gosta de fazer anúncios mirabolantes de
obras que já começam a mostrar inúmeras dificuldades para sair do papel.
Além do BRT – Bus Rapid Transit – que está mais enrolado que
caracol, sem ainda um projeto executivo, sem saber quanto vai custar realmente
e dependendo de verbas federais num ano em que até verba das universidades federais
estão sendo cortadas (a do Rio já anunciou que não paga ninguém até setembro), temos
o VLT (uma aventura que já não deu certo e corre sério risco de não dar certo de
novo se chegar a existir realmente) e, de volta, o tal do teatro de ópera de
Campinas que o governo do Estado prometeu bancar no Parque Ecológico e que tem
um custo anunciado de incríveis 78 milhões de reais, como estampa hoje na
primeira página o Correio Popular.
A primeira tentativa de licitar a obra deu com os burros n’água
tantos eram os problemas que os projetos apresentavam. As empresas chiaram,
mostraram as derrapadas todas e tudo foi adiado. Agora a Prefeitura refez os
editais e deve anunciar, solene, o início do processo de licitação. Se tudo der
certo e o governo do Estado desembolsar mesmo a fortuna para a construção, a
obra deve começar só no próximo ano.
Mas gastar esse dinheiro todo para fazer um teatro numa
cidade que já possui pelo menos quatro casas, sendo uma delas – o Castro Mendes –
com capacidade para abrigar óperas, já é um desperdício total. E o valor também
é assombroso. Recentemente o Shopping Iguatemi construiu um teatro com todos os
recursos – acho que uma grandiosa ópera não caberia lá, mas o resto cabe – e
gastou cerca de 15 milhões de reais. O teatro de ópera vai custar um valor
cinco vezes maior que esse, num tempo de crise, de vacas magras, de PIB negativo, de arrecadação
caindo pelas tabelas etc.
Além disso, um teatro de ópera, nos moldes dos grandes
teatros europeus, também é discutível. Afinal Campinas não é tão grande assim e
nem tem tradição de produções operísticas suficientes para manter uma
programação anual num teatro desse porte. Para fazer uma ópera por ano e ficar
quatro ou cinco dias em cartaz, mesmo porque não há público na cidade e na
região para mais que isso, o Castro Mendes está de bom tamanho. Esse novo
teatro corre o risco de virar uma espécie de elefante branco, com pouquíssima
produção operística, mas cheio de stand up, de festas de formatura e de
pecinhas de teatro infantil.
Há ainda mais um complicador: as três últimas administrações municipais viram tanto o Centro de Convivência quanto o Teatro Castro Mendes definharem ao logo dos anos sem moverem um centavo para suas reformas ou manutenções. O teatro de ópera terá sua manutenção a cargo do município e, claro, será muito mais cara que dos outros dois. E aí? Haverá dinheiro? Se não há para restaurar o Centro de Convivência, cujo teatro está fechado há anos, e a reformar do Castro Mendes demorou mais de sete anos, como será com o pomposo teatro de ópera que necessitará de manutenção muito mais sofisticada que os outros?
Eu sei que a cultura é importante, que óperas são
manifestações às vezes magníficas do talento e sensibilidade humanos, que
teatro em geral é uma manifestação artística profunda e com tradição de vários
séculos, mas gastar essa grana toda numa cidade em que o cidadão comum espera
seis a dez horas para ser atendido num hospital público, onde uma consulta
especializada tem seis meses de espera, onde escolas são vítimas constantes de
vandalismo e assaltos, onde centenas de prédios são pichados, onde moradores de
rua morrem às pencas por falta de uma política adequada de assistência social,
onde ciclistas têm de andar em turmas para não serem são assaltados em seus
trajetos, onde as ruas e avenidas da cidade já são insuficientes para abrigar
tantos veículos causando congestionamento frequentes e sem soluções à vista, onde
há uma fila de mais de 50 mil famílias esperando uma casa popular para morar é,
convenhamos, um tapa na cara do cidadão que paga seus impostos e que espera ter
um retorno positivo da entrega obrigatória do seu dinheiro para os cofres do
poder público.
Muito boa reflexão Edmilson Siqueira. Concordo com todos os "ses" e mais ainda com os "poréns"....
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