quarta-feira, 10 de junho de 2015

Greve na Prefeitura de Campinas: Jonas prova do seu próprio veneno

Em 2012 o então presidente da Câmara, Pedro Serafim (PDT) assumiu a Prefeitura de Campinas após a cassação de Hélio de Oliveira Santos (PDT) e Demétrio Vilagra (PT), ambos cassados por corrupção. Era ano eleitoral, Jonas Donizette (PSB), que hoje é prefeito, era candidato e o sindicato dos servidores municipais estava na mão do seu partido.

Quando as negociações salariais começaram, a Prefeitura, comandada por Serafim, avisou: por ser ano eleitoral, a lei impede que os salários sejam reajustados além da inflação oficial. Portanto, mesmo que houvesse recursos não poderia reajustar salários além do que manda a lei.

Mas Serafim resolveu ser candidato a prefeito também e, sendo prefeito e tendo algumas obras e muitas medidas moralizantes para mostrar, poderia atrapalhar os planos do então favorito Donizette.

Para desgastar a imagem do prefeito e tirar-lhe alguns votos, o sindicato, nas mãos do PSB de Donizette, não teve dúvida em fazer barulhentas assembleias no Paço Municipal, reivindicar um reajuste muito acima da inflação e ignorar totalmente a lei que impedia aumentos maiores que a inflação, fazendo uma greve que estava fadada ao fracasso.

E a greve foi mesmo um fracasso, mas durou mais de um mês, se não me engano, com a imprensa cobrindo todo dia um movimento que se restringia a algumas centenas de pessoas no Paço fazendo barulho o dia inteiro e, de vez em quando, uma assembleia mixuruca no fim do dia.

Eu trabalhava no Departamento de Comunicação da Prefeitura e todo dia produzíamos um boletim com os números da greve, baseados em relatórios que chegava das diversas unidades municipais, principalmente escolas e postos de saúde.

Em nenhum dia a adesão ao movimento chegou a 30% do total de servidores da Prefeitura. A greve estava sendo feita basicamente por aqueles que ficavam ali no Paço e por servidores da Educação e da Saúde, mas a imprensa, de modo geral, sempre afirmava que a greve continuava, raramente noticiando que ela era feita por uma minoria. E com sérios prejuízos aos mais pobres que não tinham recursos para deixar filhos com babás para ir trabalhar ou para ir a um médico particular.

A greve acabou só depois que o sindicato considerou que a imagem do prefeito havia sofrido desgaste suficiente. 

Serafim, eu fui testemunha, repetiu dezenas de vezes à imprensa o impedimento legal de atender à reivindicação de reajuste salarial. Se atendesse, diga-se, ele poderia ter as contas rejeitadas e ser cassado. Mas nenhum jornal ou rádio noticiava o absurdo de se manter uma greve cuja principal reivindicação era totalmente impossível de ser atendida pode determinação legal.

A coisa era tão descarada que o líder sindicar que comandava a greve - Marionaldo Fernandes Maciel - foi nomeado por Donizette seu secretário de Recursos Humanos. 

E hoje, ao enfrentar uma greve que também pede um reajuste salarial bem acima da inflação, com a diferença que o governo não está proibido de atender à reivindicação, Donizette prova do próprio veneno. 

O ex-presidente do sindicato, agora seu homem de confiança no RH, que foi tão eficaz ao manter uma greve absurda enganando muitos servidores e prejudicando os mais necessitados, hoje não sabe como estancar o movimento grevista que tanto desgasta a imagem do seu patrão. Bem feito. 

Um comentário:

  1. Bom, parece que é uma questão de opinião mesmo, porque a greve é um direito garantido para 10, 20, 30 ou 90% das pessoas. Então não é mais ou menos legítima pelo número, e sim pelo que foi reivindicado. Me parece que a coisa não foi tão engenhosamente fechada assim, primeiro porque o Pedro Serafim não perdeu apenas por causa da greve, e nem principalmente por ela. A população nem sempre se deixa levar por estes movimentos, que chegam até a incomodar e questionar a legitimidade disso. Além disso não fica claro se a greve foi mesmo "arranjada", como se supõe. E mesmo agora, a impressão que se dá é que também há poucas adesões, ou deve ser porque o serviço público é tão ruim que nem falta faz.

    ResponderExcluir