A maior crítica que se fazia ao governo populista de Lula
era que ele preferia aumentar programas sociais (que lhe rendia votos), gastar
dinheiro do BNDES com empresas escolhidas para serem as maiores e não
privatizar áreas que poderiam ganhar grande impulso nas mãos da iniciativa
privada. Ao mesmo tempo, aparelhava as agências esvaziando-lhes a missão de fiscalizar
a gestão de setores entregues a particulares.
O resultado, diziam os críticos,
seria a perda da competitividade no mercado mundial. Por quê? Ora essas
políticas afetavam a infraestrutura do país. Os programas sociais sem
fiscalização de contrapartidas mantinham parcelas produtivas da população no
ócio, como inúmeras reportagens já mostraram; alavancar empresários escolhidos
a dedo (Eike, Friboi...) era arriscado demais e facilitava a corrupção, além de
deixar outros setores a descoberto; não privatizar elevava cada vez mais as despesas
sobre o orçamento e esvaziar as agências deixava à vontade operadoras de
telefonia, de estradas e de aeroportos (entre outras) para que não cumprissem
todo o contrato e privilegiassem apenas o lucro.
O resultado, em 15 anos (os três últimos de FHC quando o
Brasil ainda não era bafejado pela melhora na economia mundial) é que o Brasil
foi perdendo posições na infraestrutura e o preço das commodities foi ficando
maior do que de outros concorrentes, mesmo o Brasil tendo uma dos mais produtivos
agronegócios do mundo.
Assim, o Brasil está agora amargando uma queda de 12
posições no ranking da competitividade mundial – caiu do 41º para 53º entre 61
países avaliados. E, pela perspectiva deste ano (PIB negativo) e do próximo
(PIB pouco acima de 1%) o Brasil do PT vai perder mais posições ainda. A reportagem
abaixo é do Estadão de hoje.
Brasil perde a corrida da infraestrutura
Renée Pereira - 4 Junho 2015
O baixo investimento
no setor de infraestrutura tem distanciado o Brasil dos principais concorrentes
e reduzido a competitividade do produto nacional. Nos últimos 15 anos, apesar
de algumas concessões feitas pelo governo na área de rodovias, aeroportos e energia,
o País perdeu 12 posições no ranking mundial, elaborado pelo International
Institute for Management Development (IMD) e compilado pela Fundação Dom
Cabral. Entre os 61 países avaliados, a infraestrutura nacional ocupa hoje a
53.ª posição – em 2001, estava em 41.º lugar.
Os leilões de
rodovias, aeroportos e energia, sem dúvida, ajudaram a melhorar a qualidade dos
ativos brasileiros. Mas não foram suficientes para desbancar os demais países,
que têm apostado mais na melhora da infraestrutura, explica o coordenador do
Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda.
Segundo Arruda, responsável pela coleta de dados do Brasil para o ranking, o
País está fazendo muito pouco no setor enquanto outras nações elegeram a área
como estratégica para elevar a competitividade.
De 2012 para cá, seis
países ultrapassaram o Brasil no ranking: Jordânia, México, Tailândia, Romênia,
Ucrânia, Bulgária e Argentina. No México, concorrente direto do Brasil, o plano
para o setor de infraestrutura prevê investimentos – públicos e privados – de
US$ 590 bilhões nos próximos cinco anos. O pacote lançado na semana passada
pelo governo prevê R$ 198 bilhões (ou US$ 64 bilhões pela cotação de
sexta-feira), sendo R$ 69 bilhões (US$ 22 bilhões) até 2018.
O problema é que, com
base em experiências passadas, sabe-se que boa parte dos projetos apresentados
não sairão do papel. Em 2012, o governo lançou o Programa de Investimento em
Logística, mas a maioria dos empreendimentos não decolou. Além disso, a
participação do governo nos investimentos tem sido muito baixa, e deverá
continuar assim por causa da crise fiscal, afirma o economista Mansueto
Almeida, especialista em contas públicas.
Segundo ele, nos
últimos quatro anos, enquanto os gastos públicos cresceram R$ 200 bilhões, o
volume de investimento do governo avançou apenas R$ 20 bilhões. Isso inclui as
áreas de educação, saúde, desenvolvimento agrário e defesa. No setor de
transportes, os investimentos recuaram R$ 2 bilhões, o que representa queda
real de 16%. “A ideia do governo com o pacote é fazer com que a iniciativa
privada compense essa queda de investimento público.”
Nos últimos anos,
segundo a consultoria Inter.B, o Brasil investiu menos de 2,5% do Produto
Interno Bruto (PIB) em infraestrutura. Pelos parâmetros internacionais, o País
deveria injetar, pelo menos, 3% do PIB só para manter os ativos existentes. Ou
seja, houve uma deterioração da infraestrutura, afirma o presidente da Câmara
Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Rodrigues Martins.
Concorrentes
Enquanto isso, os
concorrentes do Brasil estão alguns passos à frente. Na Tailândia, investe-se
15% do PIB em infraestrutura; na China, 13%; Vietnã, 10%; Índia, 6%; e Chile,
5,1%. Para melhorar a qualidade dos ativos e alcançar níveis de países
industrializados, seria necessário aplicar entre 4% e 6% do PIB durante 20
anos. “Mas isso só vai acontecer quando a infraestrutura fizer parte de uma
política de Estado, o que não existe no Brasil”, afirma o presidente da
Inter.B, Cláudio Frischtak.
Para Frischtak, os
projetos do setor não podem ficar “ao sabor” dos governos de plantão, precisam
ser independentes dos ciclos eleitorais. Além disso, não se pode perder tempo
com propostas mirabolantes, que gastam energia e dinheiro e depois são
abandonadas. Além do trem-bala, entre Rio e São Paulo, a Empresa de
Planejamento e Logística (EPL) deixou de ser prioridade e foi esquecida. “Isso
sem contar a ferrovia Transnordestina, uma obra privada, mas financiada por
órgãos federais, e que nunca é concluída.”
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