domingo, 14 de junho de 2015

Brasil cai 12 posições em competitividade

A maior crítica que se fazia ao governo populista de Lula era que ele preferia aumentar programas sociais (que lhe rendia votos), gastar dinheiro do BNDES com empresas escolhidas para serem as maiores e não privatizar áreas que poderiam ganhar grande impulso nas mãos da iniciativa privada. Ao mesmo tempo, aparelhava as agências esvaziando-lhes a missão de fiscalizar a gestão de setores entregues a particulares. 

O resultado, diziam os críticos, seria a perda da competitividade no mercado mundial. Por quê? Ora essas políticas afetavam a infraestrutura do país. Os programas sociais sem fiscalização de contrapartidas mantinham parcelas produtivas da população no ócio, como inúmeras reportagens já mostraram; alavancar empresários escolhidos a dedo (Eike, Friboi...) era arriscado demais e facilitava a corrupção, além de deixar outros setores a descoberto; não privatizar elevava cada vez mais as despesas sobre o orçamento e esvaziar as agências deixava à vontade operadoras de telefonia, de estradas e de aeroportos (entre outras) para que não cumprissem todo o contrato e privilegiassem apenas o lucro.

O resultado, em 15 anos (os três últimos de FHC quando o Brasil ainda não era bafejado pela melhora na economia mundial) é que o Brasil foi perdendo posições na infraestrutura e o preço das commodities foi ficando maior do que de outros concorrentes, mesmo o Brasil tendo uma dos mais produtivos agronegócios do mundo.

Assim, o Brasil está agora amargando uma queda de 12 posições no ranking da competitividade mundial – caiu do 41º para 53º entre 61 países avaliados. E, pela perspectiva deste ano (PIB negativo) e do próximo (PIB pouco acima de 1%) o Brasil do PT vai perder mais posições ainda. A reportagem abaixo é do Estadão de hoje.

Brasil perde a corrida da infraestrutura

Renée Pereira - 4 Junho 2015

O baixo investimento no setor de infraestrutura tem distanciado o Brasil dos principais concorrentes e reduzido a competitividade do produto nacional. Nos últimos 15 anos, apesar de algumas concessões feitas pelo governo na área de rodovias, aeroportos e energia, o País perdeu 12 posições no ranking mundial, elaborado pelo International Institute for Management Development (IMD) e compilado pela Fundação Dom Cabral. Entre os 61 países avaliados, a infraestrutura nacional ocupa hoje a 53.ª posição – em 2001, estava em 41.º lugar.

Os leilões de rodovias, aeroportos e energia, sem dúvida, ajudaram a melhorar a qualidade dos ativos brasileiros. Mas não foram suficientes para desbancar os demais países, que têm apostado mais na melhora da infraestrutura, explica o coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda. Segundo Arruda, responsável pela coleta de dados do Brasil para o ranking, o País está fazendo muito pouco no setor enquanto outras nações elegeram a área como estratégica para elevar a competitividade. 

De 2012 para cá, seis países ultrapassaram o Brasil no ranking: Jordânia, México, Tailândia, Romênia, Ucrânia, Bulgária e Argentina. No México, concorrente direto do Brasil, o plano para o setor de infraestrutura prevê investimentos – públicos e privados – de US$ 590 bilhões nos próximos cinco anos. O pacote lançado na semana passada pelo governo prevê R$ 198 bilhões (ou US$ 64 bilhões pela cotação de sexta-feira), sendo R$ 69 bilhões (US$ 22 bilhões) até 2018.

O problema é que, com base em experiências passadas, sabe-se que boa parte dos projetos apresentados não sairão do papel. Em 2012, o governo lançou o Programa de Investimento em Logística, mas a maioria dos empreendimentos não decolou. Além disso, a participação do governo nos investimentos tem sido muito baixa, e deverá continuar assim por causa da crise fiscal, afirma o economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas.

Segundo ele, nos últimos quatro anos, enquanto os gastos públicos cresceram R$ 200 bilhões, o volume de investimento do governo avançou apenas R$ 20 bilhões. Isso inclui as áreas de educação, saúde, desenvolvimento agrário e defesa. No setor de transportes, os investimentos recuaram R$ 2 bilhões, o que representa queda real de 16%. “A ideia do governo com o pacote é fazer com que a iniciativa privada compense essa queda de investimento público.”

Nos últimos anos, segundo a consultoria Inter.B, o Brasil investiu menos de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura. Pelos parâmetros internacionais, o País deveria injetar, pelo menos, 3% do PIB só para manter os ativos existentes. Ou seja, houve uma deterioração da infraestrutura, afirma o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Rodrigues Martins.

Concorrentes
Enquanto isso, os concorrentes do Brasil estão alguns passos à frente. Na Tailândia, investe-se 15% do PIB em infraestrutura; na China, 13%; Vietnã, 10%; Índia, 6%; e Chile, 5,1%. Para melhorar a qualidade dos ativos e alcançar níveis de países industrializados, seria necessário aplicar entre 4% e 6% do PIB durante 20 anos. “Mas isso só vai acontecer quando a infraestrutura fizer parte de uma política de Estado, o que não existe no Brasil”, afirma o presidente da Inter.B, Cláudio Frischtak.

Para Frischtak, os projetos do setor não podem ficar “ao sabor” dos governos de plantão, precisam ser independentes dos ciclos eleitorais. Além disso, não se pode perder tempo com propostas mirabolantes, que gastam energia e dinheiro e depois são abandonadas. Além do trem-bala, entre Rio e São Paulo, a Empresa de Planejamento e Logística (EPL) deixou de ser prioridade e foi esquecida. “Isso sem contar a ferrovia Transnordestina, uma obra privada, mas financiada por órgãos federais, e que nunca é concluída.”

Para Arruda, da Dom Cabral, se o Brasil tivesse investido tudo que estava previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a infraestrutura poderia ter tido avanços significativos. Mas o que existe é uma grande defasagem. Segundo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), o indicador de qualidade da eletricidade, rodovias, ferrovias e portos brasileiros é o segundo pior entre dez concorrentes diretos (EUA, Canadá, Índia, Argentina, Austrália, China, Casaquistão, México, Rússia e África do Sul).

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