Na próxima quinta-feira, 2 de julho, o prefeito de Campinas,
Jonas Donizette (PSB) faz uma palestra em Londres. O evento é patrocinado pelo World
Business Council for Susteinable Development – uma entidade bancada por 200 empresas
que têm interesse em aplicar suas soluções inovadoras em mobilidade em cidades
do mundo afora. Aqui em Campinas a entidade está trabalhando para a Emdec, sob
contrato, para “prestar assessoria técnica nas seguintes questões: implementação
do BRT, elaboração dos estudos do VLT, reestruturação do sistema de transporte
coletivo urbano, implantação do sistema de compartilhamento de carros e
bicicletas, melhoria nos terminais e paradas de ônibus, deslocamento com
menores custos e redução de emissão de poluentes”, como afirma o press-release
publicado pela Prefeitura em seu portal.
O tema da palestra do prefeito é “Rumo a uma mobilidade
eficiente e sustentável”. Como ele é prefeito de Campinas, o tema deve estar
relacionado com a cidade. Daí, conclui-se que há, em Campinas, uma ação rumo a
uma mobilidade eficiente e sustentável.
Só que, infelizmente, não há. A cidade precisaria iniciar
muitas obras já para, daqui a um ou dois anos, ter sua mobilidade urbana melhorada.
O grande problema de Campinas, hoje, é a falta de espaço
para tanto veículo. Sem uma solução drástica de aumento no espaço, não vai
adiantar nada implementar o BRT, implantar o VLT, reestruturar o transporte
coletivo urbano e todas as outras medidas que estão em estudos.
Para aumentar o espaço para o trânsito de veículos, sejam
automóveis, utilitários, ônibus alternativo, ônibus oficial, caminhões ou seja
lá o que for, o óbvio é que se aumente a largura das avenidas e ruas, construam
alguns viadutos e façam passagens subterrâneas ou elevadas em dezenas de cruzamentos de
grande movimento. E não só no Centro.
E o que temos hoje em Campinas? A perspectiva de um BRT difícil de sair do papel, pois suas obras parecem empacadas em problemas simples. Tanto assim é que os
veículos que seriam usados no sistema chegaram à cidade em 2012 e estão sendo
usados por aí. Quando o trajeto exclusivo para eles estiver pronto vão precisar
comprar outros, porque esses já estarão virando sucata.
Um Veículo Leve sobre Trilhos, o VLT – outro item dos estudos que estão
sendo feitos – será, ao contrário do BRT, um mau negócio para a cidade. Se o
projeto aproveitar antigos traçados de linhas ferroviárias será complicado. Esses
traçados, criados para passar em fazendas para apanhar a produção, são
totalmente inadequados para os dias de hoje. Curvas e mais curvas impedem uma velocidade
compatível com a possibilidade dos trens e a necessidade dos usuários. Já uma
ligação entre o Centro e Viracopos em linha reta, implicaria
num gasto com desapropriações totalmente impossível para os combalidos cofres públicos.
Sem contar as demandas que iriam parar na nossa lentíssima Justiça e que
empacariam o projeto. Quando terminassem, o mundo já estaria dotado de
automóveis voadores, como nos desenhos animados dos Jetsons.
Outro estudo – a reestruturação do sistema de transporte
coletivo urbano – também esbarra na falta de espaço. A solução óbvia é colocar
mais ônibus nas ruas para que eles transportem mais passageiros e cumpram seus
horários. Só que mais ônibus, sem aumentar o espaço, significará mais congestionamentos.
A única ideia boa que anda circulando por aí é um projeto que acaba com os horríveis
e ultrapassados terminais no centro. Desde, claro, que se acabe com todo o
comércio pirata no entorno deles para que o cidadão campineiro receba esses
espaços, que foram tomados à força, de volta.
A implantação do sistema de compartilhamento de carros e
bicicletas é um delírio do prefeito ou seja lá de quem teve a ideia. A primeira
dificuldade começa com o fato de Campinas não ser uma cidade plana. A segunda é
a péssima conservação das ruas. E a terceira é que, implantando faixas para bicicletas,
vai sobrar menos espaço para os carros e os congestionamentos vão aumentar.
Os outros estudos só serão viáveis se os anteriores se
tornarem realidade. Portanto, mesmo sem saber o que o prefeito vai falar em
Londres, já sei que é conversa mole pra boi dormir, pois a base das medidas
necessárias para melhorar a mobilidade em Campinas – criar mais espaços para o
transporte - não está sendo tomada e isso inviabiliza qualquer estudo ou projeto
que se queira implantar.
E maior prova de que esse governo não é serio quando aborda
a mobilidade urbana está reurbanização da Avenida Francisco Glicério. Além de o
projeto contemplar apenas a avenida sem mexer nas outras centenas de ruas que
formam o Centro, o espaço da avenida para os carros vai ser diminuído, o que
implicará em maiores dificuldades para a fluidez do trânsito na região. Pobre
Campinas!
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