As discussões sobre política de gênero que tanto têm ocupado
a imprensa campineira são de um absurdo que dá até preguiça de comentar. Agora,
um anúncio do Boticário também acendeu preconceitos vários e até declarações públicas
de boicote a produtos da empresa.
O mundo às vezes volta a um passado triste e obscuro. Querer
impor uma determinada questão ou um comportamento inusitado à maioria da
população de um país na base do grito é tão ignorante quanto execrar as
minorias só porque elas são diferentes da maioria.
Na Roma antiga não havia esse problema de definições. O sexo
era tão livre quanto os pássaros. As religiões que vieram depois – cristãs e
maometanas – é que resolveram impor uma moral que nunca havia existido e que,
se continuassem não existindo, tornariam o mundo e as pessoas bem melhores do
que são hoje.
Enquanto os religiosos de sempre defendem valores que eles
consideram importantes, mulheres são apedrejadas, homossexuais são presos e
torturados, minorias cristãs são trucidadas por islâmicos, árabes são mortos
por árabes, tribos africanas guerreiam contra tribos africanas e, no Brasil, onde
apensa 6% dos assassinatos são esclarecidos, o governo informa que menores
cometem quase 2 mil homicídios por ano. Deve ser 6% do total verdadeiro.
Enquanto grupos minoritários tentam impor leis à força que
insultam não só religiosos, mas também agnósticos e ateus de bom senso, a nação
é subtraída em bilhões por políticos corruptos que têm a simpatia e o voto desses
grupos, o país envereda por uma crise econômica cujo fim pode ser o retorno a
uma situação em que os ricos serão favorecidos e os mais pobres destroçados e a
violência contra tudo e contra todos atinge quase 60 mil assassinatos por ano e
centenas de milhares de roubos e furtos são cometidos, a inflação começa a
pesar no bolso de quem mais precisa e o governo federal não encontra saída, por
incompetente e corrupto que é, para sair dessa situação.
Querer discutir políticas de gênero com uma criança que
tenha entre quatro e dez anos de idade, ou mesmo evitar chamá-la de menino e
menina é de uma crueldade sem tamanho. Claro que ensinar essa criança a
respeitar a todos indistintamente é obrigação de um professor, mas, antes de
tudo, é obrigação familiar.
E para que famílias e professores tenham condição de ensinar
crianças a respeitarem o próximo como deve ser respeitado, independentemente da
cor, da religião, da opção sexual ou do time que torce, a sociedade brasileira
precisa melhorar muito ainda. Salários baixos, transporte público deficiente,
atendimento médico primitivo, inflação ameaçando novamente, o péssimo exemplo
dos eleitos para cargos públicos em todos os níveis, sindicatos de servidores
públicos fazem greves político-partidárias, violência selvagem nas ruas, enfim,
um cenário de filme de terror que só contribui para que o ódio viceje, para que
o cidadão embruteça, para que crianças sejam possessivas e, sem a educação que
os pais – mais preocupados em sobreviver – deveriam dar, fazem da escola uma
extensão da rua, onde o professor é só mais uma autoridade a ser desobedecida.
Num país onde a ignorância é algo a ser vencido, onde
religiões dominam massas gigantescas, onde um partido no poder quer roubar à vontade
e impor políticas públicas que privilegiam minorias na marra, onde uma presidente
não consegue formar frases inteligíveis, onde a violência campeia solta, há um
caminho muito longo ainda a ser percorrido para que a própria população entenda
o que é política de gênero.
E antes de eliminarmos os mais de 60 assassinatos por ano, de
parar de cometer centenas de milhares de roubos e furtos, de parar de matar mais
de 50 mil no trânsito a cada ano e de deixar impunes milhares e milhares de
assassinos, ladrões e corruptos, não há espaço algum par discutir qualquer
coisa que não seja, primeiro, a volta da dignidade humana que o Brasil está
perdendo diariamente.
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