terça-feira, 16 de junho de 2015

Séculos de prisão são pedidos para os corruptos de Campinas

Os pedidos de 450 anos e 300 anos de prisão para a ex-primeira dama de Campinas, Rosely Nassin Jorge Santos e para o ex-vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT), respectivamente, acusados que foram de corrupção, formação de quadrilha e outros crimes, pelo Ministério Público pode não ser o fim do processo – falta ainda a sentença em primeira instância e há recursos quase infinitos depois – mas é a evidência de que os crimes foram muitos e graves.

O governo ao qual pertenciam era chefiado por Hélio de Oliveira Santos (PDT) e Rosely, além do cargo honorífico, era a toda poderosa chefe do Gabinete, ou seja, era a chefe dos secretários do seu marido.

Não era para ser ela no cargo e sim Alcides Mamizuka, um político discreto que dificilmente aceitaria a “república de Mato Grosso” que por aqui se instalou. Essa “república” foi composta por gente vinda de MT para exercer cargos importantes em Campinas, trazendo como bagagem folhas corridas de processos criminais.

Mas Mamizuka dançou antes mesmo da posse de Hélio, em 2005, e Rosely assumiu o cargo de onde comandaria o maior esquema de corrupção que Campinas já presenciou.

Seu marido não entrou no processo para que o mesmo não saísse da primeira instância, pois ele teria foro privilegiado como prefeito eleito.  Mas jamais houve qualquer dúvida que a esposa e ele agiam em conjunto. Aliás, um velho político campineiro me confidenciou, antes mesmo da posse, que o plano da dupla era um só: entrar para o rol dos milionários brasileiros.

A aliança com o PT já no primeiro mandato foi essencial para os planos do casal. Aliás, essa aliança começou antes, dias depois do primeiro turno que, surpreendentemente, colocou o tal do “doutor” Hélio no segundo turno contra Carlos Sampaio (PSDB).

Diante da possibilidade de vencer o PSDB numa cidade importante, Lula (na verdade deve ter sido José Dirceu) mandou alguns milhões de reais para a então combalida campanha do PDT. Hélio havia até pensado em desistir, já que não tinha recursos nem para bancar o programa de televisão. Quem trouxe o dinheiro, dizem, foi Luiz Carlos Rocha Gaspar que depois foi nomeado presidente da Ciatec – uma empresa municipal ligada ao polo de alta tecnologia. Gaspar sobreviveu – surpreendentemente - no cargo até o início do segundo ano do governo de Jonas Donizette (PSB) passando por três prefeitos depois de Hélio, nas conturbadas sucessões após o escândalo e as cassações. Mas foi durante esse tempo todo – nove anos! – uma espécie de “secretário fantasma”, pois raramente aparecia até pra trabalhar. Era amigo (ainda deve ser) do então “primeiro-ministro” de Lula, José 
Dirceu e deve ter sido através dele que chegou a Campinas com as verbas para sustentar a campanha de Hélio contra Carlão.

Eleito, Hélio recorreu a Lula para obter recursos para a cidade. Como ambos tinham objetivos parecidos, a aliança fluiu bem. Lula jogou cerca de R$ 500 milhões em Campinas (um quarto do orçamento da cidade à época) que foram usados para inúmeras obras principalmente na região do Campo Grande, onde Hélio até hoje desfruta de prestígio.

Enquanto Hélio desfrutava de um governo azeitado por verbas federais, sua mulher deitava e rolava na chefia do Gabinete. Dizem que nenhum processo de autorização de obra privada obtinha seu aval se seus interessados não deixassem percentual de propina.

Como o dinheiro federal chegava fácil, Hélio foi reeleito com um pé nas costas, em primeiro turno, com uma aliança que lhe dava quase metade do horário eleitoral gratuito. O segundo mandato começou sem perder o ritmo do primeiro: verbas federais e corrupção correndo solta.

Eu era colunista político do Correio Popular até pouco antes da segunda eleição em 2008. Muita gente me contou que o governo era extremamente corrupto, mas ninguém quis bancar uma denúncia. Eu mesmo fui abordado para entrar no esquema, por uma quantia mensal que era o triplo do meu salário. Recusei, claro. A proposta foi feita, em 2005, pelo então secretário de Comunicação, Francisco de Lagos, que morreu no ano passado.  

E assim foi durante cerca de seis anos, até o Ministério Público revelar o processo que corria em segredo e mandar prender gente do primeiro escalão do governo municipal, incluindo a chefe do esquema, Rosely, que escapou da prisão se escondendo em lugar incerto e não sabido. Dizem que foi numa famosa loja de Campinas, mas não há confirmação, por isso não vou citar a loja.

A morosidade da Justiça brasileira acaba fazendo com que o tempo apague as lembranças de muita gente. Mas não podemos esquecer que esses réus todos se beneficiaram do dinheiro público, roubaram quantias significativas que poderiam salvar vidas por ai, foram corruptos ao extremo e pagar pelos seus crimes, passando longos anos na prisão é o mínimo que se espera que aconteça com eles. 

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