quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Diário de FHC, uma lição


Aos poucos vou retomando meus textos aqui no blog. Nessa fase meio recolhido – uma gripe braba, problemas na garganta, remédios com efeitos colaterais que precisam de outros remédios que também têm efeitos colaterais, enfim, essa armadilha toda em que a indústria farmacêutica nos mete – li, na Piauí, a primeira publicação de um pequeno trecho do Diário de FHC, cuja primeira edição (serão quatro) deve estar à venda ainda neste mês.

A leitura é desanimadora, vou logo avisando. Nela, percebe-se claramente um grupo no poder tentando dar uma cara de modernidade ao Brasil, com o Plano Real em andamento e correndo riscos constantes, e, do outro lado, uma velha oligarquia política mantendo a péssima tradição do “toma lá dá cá”, sem a qual o presidente fica sem poder governar.

FHC peita os oligarcas, mas sabe que sua luta tem um limite. Tira amigos competentes de cargos para fazer agrados à mesma máfia que hoje impera no Congresso. Consegue algumas vitórias, como a da Previdência, cuja reforma sua equipe havia estudado e preparado uma lei que, a médio prazo, resolveria um problema crucial. No Congresso, sob o comando de Michel Temer e Sarney (pois é, eles mesmos), a lei é mudada em cerca de 70% de seu conteúdo. FHC chama de “vitória de Pirro” a votação que aprovou a lei com grande maioria, pois, como se vê hoje, o problema da Previdência não foi resolvido, pelo contrário, cresce a cada ano e ninguém pensa em mudar, pois isso implicaria em acabar com muitos privilégios.  

O PT ainda é uma pequena ameaça. FHC se reúne com a cúpula da CUT – Vicentinho à frente – no palácio. E depois cede, a pedido do presidente da entidade, a biblioteca do Planalto para que eles fizessem uma reunião a sós. E se diverte até com o fato. “A cúpula da CUT reunida na Biblioteca do palácio...”.  Tempos suaves na relação, como aliás, deveria ser sempre, mas não é.

Um grande problema para FHC, que fica claro nessa pequena amostra de seu diário, é a imprensa. Versões distorcidas de fatos, ou fatos que estavam e precisavam ficar apenas entre três pessoas, viram manchetes ou notas, estragando estratégias e criando problemas com muita gente. Mentiras de dois colunistas da Folha sobre FHC, o irritam a ponto de ele ligar para o dono do jornal e exigir retratação. Segundo o ex-presidente, houve retratação. Segundo os próprios colunistas – e isso foi dito na semana passada - não houve retratação alguma. Curiosos: os colunistas parecem se vangloriar ao dizer que não fizeram retratação sobre um fato mentiroso que publicaram. Triste.

O Diário de FHC é uma grande contribuição – mais uma – daquele que eu considero ter sido o melhor presidente que o Brasil já teve. Eu sei que muitos vão discordar, mas essa discordância terá mais a ver com o presente, onde as posições de FHC em relação ao impeachment não estão de acordo com as da maioria da oposição. Eu mesmo quero que o Brasil se livre do PT já, pois corremos o risco de, em esperando a eleição de 2018, engolir Lula mais uma vez e daí perder toda e qualquer esperança de dias melhores. Hoje, Lula está por baixo em pesquisas, mas se o Brasil se recuperar economicamente até 2017, ele cresce de novo, pois vai dizer que foi ele e seu partido que venceram a crise, sozinhos, claro. E haverá povo com votos suficientes para acreditar em mais essa mentira.

Mas, voltando a FHC, olhemos para o passado, para as condições em que ele assumiu o Brasil e para o que ele fez, que ninguém tinha conseguido fazer antes: diminuiu drasticamente  a inflação, criou uma moeda forte, mudou a relação dos governos com as dívidas todas pela Lei de Responsabilidade Fiscal etc. E só não conseguiu mudar mais para melhor porque esbarrou na máfia que impera na política brasileira. E que, com Lula, ascendeu ao poder de forma definitiva, já que o próprio governo petista se constituiu na máfia maior, destruindo muita coisa que foi plantada por FHC e colocando o Brasil na terrível situação em que está hoje, com recessão, desemprego, inflação alta e, principalmente, corrupção generalizada, o que afasta a necessária confiança dos investidores.

O Brasil de FHC, que tinha tudo para dar certo, esbarrou no PT. E, claro, deu tudo certo para eles e tudo errado para o Brasil.

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