quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A coação do Bradesco sobre os servidores municipais

A mudança do banco que faz os pagamentos dos salários do funcionalismo municipal de Campinas gerou muita reclamação.  O maior beneficiado, até agora, foi o governo do prefeito Jonas Donizette (PSB) que conseguiu, com a venda da folha de pagamento para o Bradesco,  R$ 64 milhões que viabilizaram, entre outras coisas, o pagamento do 13º salário dos servidores.

Mas muita gente se sentiu e está se sentindo prejudicada. O problema é que o Bradesco quer que os servidores abram uma conta corrente comum e saiam do Banco do Brasil. E é aí que a porca entorta o rabo.

O Bradesco preparou uma grande operação, alugou um ginásio de esportes no Cambuí, encheu de funcionários do banco para recepcionar os servidores, organizou a recepção em ordem alfabética durante vários dias e orientou seus funcionários a evitar que os servidores abrissem  contas salário: o banco queria todo mundo com conta corrente. Só que a conta salário é uma opção legal nesses casos – automática até - e muita gente queria manter sua conta no banco anterior, que é o Banco do Brasil.

A orientação do Bradesco, claro, não foi divulgada, muito pelo contrário: se perguntado o banco vai negar qualquer coisa nesse sentido.

Acontece que uma servidora, após insistir muito – e conseguir – preencher um formulário de conta salário, pediu à atendente um comprovante de que ela havia aberto uma conta salário. A resposta foi que não havia esse tipo de comprovante, que ninguém jamais havia pedido. A servidora insistiu e a atendente então pegou uma folha de rascunho que estava sobre a mesa, escreveu de próprio punho o “recibo”, assinou, carimbou e entregou para a servidora. O que a atendente não viu é que nas costas do “comprovante”, estava impresso um comunicado do banco aos seus funcionários orientando-os a não perguntar aos servidores se eles queriam abrir conta salário.

Outra servidora, que ganha muito bem e tem investimentos no Banco do Brasil, pediu para abrir conta salário. A atendente lhe deu papéis para preencher, ela preencheu, assinou e só quando foi ler tudo com calma, em casa, descobriu que fora enganada: tinha aberto uma conta corrente. Inconformada, foi até a agência do Bradesco que havia escolhido para ter sua conta salário e conseguiu mudar. Ouviu pedidos de desculpa do gerente que disse que, em 25 anos de banco jamais tinha acontecido algo semelhante no Bradesco.

Esses casos chegaram até o blog, mas há muitos outras pessoas reclamando que sofreram constrangimentos, dificuldades inúmeras para abrir contra salário, demora no atendimento – um servidor levou mais de cinco horas para ser atendido – enfim, uma situação que não precisaria ter acontecido não fosse o Bradesco querer transformar – quase que na marra – os quase 20 mil servidores da ativa e inativos da Prefeitura em seus novos correntistas.

E tudo seria muito simples: um formulário para o servidor preencher onde ele declararia se queria ter conta corrente ou não. Em querendo ou não, bastava assinalar onde queria receber o salário: essa agência teria ou um novo correntista ou um novo dono de uma conta salário, que transferiria, automaticamente, todo mês, os vencimentos que ali chegassem para o banco original do servidor. Esses formulários poderiam ser digitalizados e enviados pela internet, sem necessidade da presença física do servidor no banco. Ou que ele fosse apenas uma vez à agência para assinar os papeis já prontos.

Do jeito que foi feito pegou mal para o banco que ficou com a péssima fama de tentar obrigar servidores da Prefeitura a abrirem contas correntes. Pegou mal para a Prefeitura que não exigiu que seus servidores tivessem um tratamento digno e deixou que o banco pressionasse todos eles. E ficou muito ruim para o servidor que, não tendo nada com isso, foi constrangido e perdeu tempo para fazer um negócio sobre o qual não foi consultado e, se fosse, a grande maioria não iria querer. Coisas de um governinho safado.  

Aliás, ficou ruim para os cupinchas do prefeito na Câmara de Vereadores também. Um vereador da oposição fez um requerimento de convocação do secretário de Administração da Prefeitura, para que ele explicasse, no plenário, essa confusão toda que está havendo com os servidores e a transferência da folha de pagamentos para o Bradesco.

Na hora de votar o requerimento, a tal de “base aliada” fugiu do plenário, impedindo que houvesse quórum para a votação. Depois, quando havia quórum, os cupinchas votaram contra a convocação, num total desrespeito aos servidores municipais. A rejeição do requerimento aconteceu como nos tempos em que Hélio de Oliveira comandava a Prefeitura e a Câmara de Vereadores.   

E para encerrar a sessão constrangimento do episódio todo, no mesmo dia em que o requerimento foi rejeitado, o Sindicato dos Servidores Municipais obteve liminar judicial que obriga o Bradesco a se restringir à abertura de contas para recebimento dos salários pelos servidores, sem tentar convencê-los a nada. Bem feito. 

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