segunda-feira, 30 de março de 2015

Por que ir às ruas


Quando comecei a acompanhar política no Brasil com um interesse maior vivíamos em plena ditadura militar. Foi ali pelos 16, 17 anos, nos anos da graça (sem graça, aliás) de 1967/68. O regime militar se fortalecia, a população apoiava e, com o recrudescimento da esquerda, os militares julgaram, erroneamente a meu ver, que ela teria força para arregimentar exércitos de “oprimidos” e lutar pelo fim da ditadura de direita.

Mas, pelo sim, pelo não, a linha dura do Exército (que era, das três forças a que realmente mandava) decidiu fechar o tempo. E veio o AI-5, o fechamento do Congresso, cassações em massa, prisões dos mais radicais, tortura, mortes, censura brava sobre tudo, imprensa vigiadíssima e “gente falando de lado e olhando pro chão”, como disse o poeta.

A partir de 68, a coisa ficou feia mesmo, inclusive pelos que rejeitavam qualquer aventura armada e, dentro do então valente e MDB, tentavam fazer uma oposição dentro do que era permitido pelos milicos. O Brasil vivia uma ditadura, que não era tão dura quanto outras no Cone Sul e muito mais branda que as mais famosas de esquerda, como Rússia, China e Cuba. Mas era uma ditadura, havia censura e prisões de políticos e terroristas de esquerda.

Foi nesse ambiente que fui me familiarizando com a política brasileira. A crise da ditadura no governo do último general, João Batista Figueiredo, que se dizia intelectual porque tinha sido bom aluno em matemática, se arrastou por longos anos, até desembocar na eleição indireta de Tancredo Neves (elogiado e tido como confiável pelos milicos) que encerrou o último ciclo verde-oliva no Brasil.

Encerrou o ciclo, mas, eleito, não tomou posse, morrendo antes e dando lugar a seu vice, José Sarney que, guindado à presidência, saiu de lá bilionário, deixando o país sem qualquer rumo para um futuro melhor: a dívida externa era enorme, a inflação galopante, a moeda apanhava de quase todas as outras e os investimentos externos enfrentavam formidável barreira que, teoricamente, fariam a indústria nacional progredir. Na prática o efeito era outro: um atraso total resultante da ausência de concorrência que gerava lucro fácil. Vivíamos uns 10 a 15 anos atrasados em relação ao primeiro mundo.

Mas a democracia imperou – um rival de Sarney foi eleito democraticamente com um discurso que tinha de moralizador o que tinha de falso. Fernando Collor de Mello foi um embuste que não conseguiu resolver o problema econômico apesar de ter capado até a poupança dos brasileiros todos; teve a corrupção como marca de seu governo e não conseguiu costurar alianças que o garantissem no posto para o qual fora eleito. Cassado por corrupção e incompetência, deu lugar a um político quase folclórico, seu vice Itamar Franco, que hoje as esquerdas querem idolatrar não pelo que ele fez, mas por ter se oposto a Fernando Henrique depois que deixou o governo, mas isso é outra história.

Itamar, sem poder contar com o PMDB, com o qual tinha brigado para ser vice de Collor, sem ter qualquer simpatia pelo PT, que esteve à frente do processo de cassação do presidente, se voltou para a terceira força política da época, o recém-criado PSDB, que ostentava alguns bons quadros políticos e parecia ter vocação para administração.

Mas apenas o convite e a participação do PSDB de forma burocrática, estavam fazendo do governo de Itamar uma continuação do de Collor sem a corrupção descarada. A economia continuava vivendo de improvisos quase diários e o país continuava a patinar na lama da inflação elevada.
O convite a Fernando Henrique para que ele fosse o Ministro da Fazenda (ele era o ministro das Relações Exteriores), foi o início da mudança que realmente iria colocar o Brasil no conserto mundial das nações, fazendo com que o mundo desenvolvido, num futuro muito próximo, começasse a prestar atenção na parte mais ao Sul da América Latina.

Fernando Henrique exigiu carta branca de Itamar e montou uma equipe com duas missões: tocar a economia com o mínimo de desvios para manter o país funcionando e criar um plano que tivesse uma base sustentável para acabar de vez com a inflação. E, claro, fazer com que o desenvolvimento alcançasse os necessários graus para melhorar a vida do maior número possível de brasileiros.

A menos de seis meses da eleição presidencial, o Plano Real foi lançado e seu sucesso foi tanto que alavancou a candidatura do ministro da Fazenda a presidente, cargo para o qual Fernando Henrique foi eleito e reeleito, em primeiro turno. E o Brasil deixou de ser uma economia de terceiro mundo para entrar no rol dos países em desenvolvimento. 

Ao deixar o governo para dar posse a Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique lhe entregou um país que só necessitava aumentar as exportações para dar outro grande salto. Lula percebeu e, sorte dele, a economia mundial atravessava grande fase. A China e os EUA se transformaram em grandes compradores de produtos brasileiros e os bilhões de dólares que entravam no caixa do Tesouro levaram o Brasil a se destacar no mundo todo.

O caminho estava ali, aos olhos das autoridades e bastava cumprir o manual usado por todos os países que se desenvolveram de modo sustentável, para que hoje fôssemos parte integrante, se não do primeiro mundo, mas de uma sociedade mundial que esbanjaria confiança e teria nos resultados internos a garantia de que não se voltaria atrás jamais.

Infelizmente, não foi isso que ocorreu e a história deverá ser severa com Lula e seu PT que, eivados de uma ideologia que fica entre a esquerda radical e o populismo barato, acabaram por transformar o Brasil numa piada internacional, num mar de corruptos como jamais se viu na nossa história; num país que conseguiu transformar a maior empresa estatal – e uma das maiores do mundo – num feudo de canalhas a serviço dos próprios bolsos e à compra de políticos, deixando-a à beira da falência.

E é nesse terrível cenário que grande parte da população brasileira pretende ir novamente às ruas para dar um basta na situação. A volta da inflação num ambiente corrupto lembra os piores momentos de Sarney e Collor; os investimentos fugindo do país, o desemprego aumentando, os “pacotes” com mais impostos ainda para solucionar problemas criados pelo próprio governo, os preços aumentando mais que os salários, enfim, motivos não faltam para que o povo nas ruas exija o fim imediato desse governo e o início de uma coalizão política com novos e confiáveis personagens para retomar a confiança e fazer as mudanças necessárias para colocar novamente o Brasil no rumo saudável do desenvolvimento. Rumo esse que o PT, com sua ideologia confusa e atrasada e com uma formidável incompetência para a administração, acabou fazendo o Brasil dele se desviar.


As ruas de 12 de abril vão exigir que Dilma e o PT devolvam o Brasil aos verdadeiros brasileiros.

2 comentários:

  1. Ainda que meio assim descrente, até eu pretendo "ir às ruas" no dia 12. Espero que nenhum manifestante entusiasmado atropele a mim e ao meu joelho operado. Porque do jeito que está não dá mais, estão ofendendo nosso bolso, nossa inteligência, nosso patriotismo e até nosso bom gosto.

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  2. Ótimo, vou espalhar!

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