segunda-feira, 23 de março de 2015

A pergunta perfeita em três atos




Claro que os mais jovens não sabem, mas não é de Renato Russo e muito menos de Renato Duque (dois Renatos completamente diferentes, diga-se), a autoria da frase “Que País é esse?” que voltou à moda em tom de protesto quando do lançamento da música interpretada pela Legião Urbana e em tom de arrogância pelo homem do PT no petrolão, Renato Duque. Arrogância porque a pergunta do corrupto parecia ser feita dentro do seguinte contexto: “Que país é esse onde não se pode roubar uma estatal e a Polícia Federal já quer prender a gente?”

Claro que o ex-diretor da Petrobras queria se referir a possíveis leis que o protegessem de ser “conduzido preso” para responder por seus crimes. Dançou e não foi ao som de “Que País é esse?”.

Mas o verdadeiro autor da frase pronunciou-a dentro de um contexto completamente diferente desses outros dois mais recentes. Corria a ditadura militar, já no seu quarto general de plantão, Ernesto Geisel, descendente de alemães, militar linha dura que, no entanto, queria patrocinar uma abertura democrática no Brasil.

Só que as oposições, conhecendo bem o homem, tinham certeza que a intenção não existia, era conversa mole para diminuir a pressão que o mundo democrático começava a exercer sobre o Brasil, já há quase duas décadas sob ditadura militar.

E, claro, os comícios permitidos, os pronunciamentos contra a ditadura e mesmo a imprensa que conseguia ser razoavelmente livre, martelava na tecla da abertura democrática, sempre colocando em dúvida a intenção do general-presidente.

Pois foi nesse cenário que surge uma figura quase impagável, um político criado em Minas, mas nascido no Piauí, cabeça chata e fala ligeira. Seu nome: Francelino Pereira (foto no alto). Cargo: presidente da Arena, a Aliança Renovadora Nacional, partido criado para apoiar a ditadura e intitulado por ele mesmo como o “maior partido do Ocidente”. Defensor intransigente de Geisel e do governo em geral.  Ao se insurgir, numa entrevista, contra a total descrença da oposição numa distensão política que permitisse mais liberdades para o povo brasileiro, Francelino Pereira soltou a famosa frase, aqui também eivada de indignação:  "Que país é esse em que o povo não acredita no calendário eleitoral estabelecido pelo próprio presidente?"

Claro que, no dia seguinte, a frase estampava manchetes de todos os grandes jornais do país. E a oposição se aproveitou para responder das mais variadas formas à pergunta, dando-lhe um lugar de destaque no folclore político nacional, imortalizando-a mesmo. Tanto que ela chegou, 11 anos depois, aos jovens ouvidos de um grupo de rock tupiniquim e hoje sai da boca de um notório corrupto, casa vez agregando um novo valor, uma nova situação.

E quanto à descrença da oposição, não havia dúvida que ela se assentava em bases sólidas. De uma penada só, quando a oposição começou a crescer, Geisel, no melhor estilo general-ditador, fechou o Congresso e criou os tão tristemente famosos senadores biônicos, que não passavam por eleições, eram nomeados pelo governo. Um para cada Estado, ajudando a formar maioria esmagadora no Senado.


Já a frase que volta à baila política, considero que se trata da pergunta perfeita para um país que, infelizmente, ainda não encontrou, para ela, a reposta certa. 

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