segunda-feira, 23 de março de 2015

Preços absurdos são protegidos em Campinas

Em Campinas, o governo de Jonas Donizete (PSB) se aproxima cada vez mais, nos métodos, ao governo de Hélio de Oliveira (PDT) de tão triste lembrança.
A sessão da Câmara desta segunda-feira foi um exemplo disso. A base aliada, composta por folgada maioria, impediu, como nos velhos tempos, que dois secretários do governo fossem convocados para explicar aumentos muito acima da inflação em licitações recentes realizadas pelo Executivo.
Veja bem, não são acusações e sim suspeitas. Se não há irregularidade, o que custa explicar que os preços dessas licitações estão entre 122,2% e 63,8% mais caros que os praticados no ano passado? A inflação sob o desgoverno do PT tem aumentado bastante, mas ainda não chegou nem a 10% ao ano. Caberia, portanto, que os secretários explicassem os motivos de tantos e, aparentemente, absurdos aumentos.
Mas a maioria dos vereadores da Câmara de Campinas parece achar normal que os preços subam tanto e não querem ouvir explicação alguma. Para eles, não há qualquer motivo de preocupação se a Prefeitura de Campinas vai pagar R$ 56,7 milhões por um serviço que, em 2014, custou R$ 10 milhões. Os R$ 46,7 milhões que serão gastos a mais talvez sejam troco para os vereadores que fazem parte da corriola do prefeito.
As licitações foram realizadas para a locação de veículos que são usados na manutenção da cidade. Tratores, caminhões basculantes, retroescavadeiras, essas coisas.
Pois bem: o vereador Artur Orsi, que é do PSDB, partido que ajudou a eleger o atual prefeito e faz parte, com secretários, do governo e com os outros vereadores da bancada da base aliada, descobriu que o preço do trator de esteira com lâmina está 127% mais caro que no ano passado. Que as retroescavadeiras têm reajustes de 100,4% e de 90,6% (empresas diferentes vão alugá-las, daí a diferença) em relação ao ano passado. Que o caminhão basculante subiu 71,3% e que o caminhão truck teve aumento em seu aluguel de 63,8%.
São aumentos mais que consideráveis para uma economia que apresentou inflação beirando 7% no ano passado e que deveria servir de parâmetro para os preços deste ano. Mas na Prefeitura de Campinas a inflação considerada deve ser a argentina acrescida da venezuelana.
Sem poder convocar os secretários da Administração e dos Assuntos Jurídicos para explicarem os elevados preços, o vereador Artur Orsi protocolou diversos requerimentos para tentar obter, em 15 dias, pelo menos uma explicação por escrito. Mas vai também pedir ao Tribunal de Contas do Estado que audite os contratos.
O cordão dos puxa-sacos
Dois representantes da base, leio no Blog da Rose, se arvoraram em dar alguma resposta ao vereador, tentando justificar a recusa em convocar os secretários para falar sobre os preços estratosféricos. O primeiro foi Jorge Schneider (PTB), que já foi base do Hélio, depois se rebelou no processo de cassação e agora volta a ser da base do governo Jonas. Disse ele (não riam, por favor) que a Câmara poderia “perder a credibilidade” se convocasse os secretários, sem que as denúncias de superfaturamento fossem comprovadas.
Se eu entendi bem, só com a comprovação do superfaturamento é que a Câmara poderia chamar os secretários? Ora, se o superfaturamento já estivesse comprovado, não seria o caso de chamá-los ao plenário e sim de chamar a polícia para conduzi-los presos. Superfaturamento é crime.
Já outro puxa-saco do prefeito, Paulo Galtério (PSB) demonstrou não conhecer nadinha da função de vereador, pois disse que convocar os secretários seria um abuso da Câmara para satisfazer um capricho do vereador Artur Orsi. Ora, fiscalizar administração faz parte das obrigações dos vereadores, mas ele, na ânsia de bem servir ao chefe, considera tal dever um “abuso” ou um “capricho”.
O grand finale
Para quem ainda não se divertiu ou se indignou o suficiente, que se prepare agora para a participação de um dos que se livraram da convocação mercê a fidelidade canina da base aliada.
Silvio Bernardin, que é secretário municipal de Administração falou um dia ontem sobre o assunto. Começou negando o superfaturamento nos preços. Aumentos acima de 60% (no mínimo) de um ano para outro para ele devem ser normais. Disse ainda  que os preços contratados foram os menores apresentados durante o processo licitatório.

Pois é. Mesmo vivendo em plena era do Petrolão, onde se sabe que as empresas combinavam entre si os preços superfaturados para depois descontar as propinas, um secretário de governo vem com essa história de que os preços foram os menores apresentados. Aliás, comprar pelo menor preço é obrigação do poder público.

Mas ele vai além e diz que são preços de mercado e que estão todos abaixo dos valores estabelecidos no Sistema Nacional de Pesquisa de Custo e Índices (Sinapi).

Ora, o Sinapi estabelece preços médios de aluguel de máquinas e equipamentos, mas não é possível que a tabela oficial tenha tido um aumento do tamanho do que se verifica agora. Normalmente essas tabelas levam em consideração a inflação dos últimos 12 meses para atualizar seus preços.

Se a Prefeitura de Campinas conseguiu preços tão abaixo da tabela atual no ano passado, por que não poderia conseguir agora? Ah, isso o secretário não explicou. E só vai precisar explicar se o Tribunal de Contas do Estado aceitar as ponderações do vereador Artur Orsi, porque se depender dos vereadores da Câmara, ele pode aumentar em mais de 100% todos os preços que a Prefeitura paga que não terá problema algum.


Seu único problema é que o orçamento municipal – dinheiro que todos pagamos via impostos – vai acabar bem antes e muita coisa necessária à cidade vai deixar de ser feita. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário