O governador Geraldo Alckmin (PSDB) está parecendo aquele
personagem da Escolinha do Professor Raimundo, que responde tudo certo, mas
erra na última resposta e estraga tudo.
Pois Alckmin fez isso em 2015. Eleito em primeiro turno ano
passado, dando uma surra histórica no PT, estava fazendo o governo que dele se
espera, sem muitos arroubos, com muitas obras e surfando em percentuais
altamente positivos de aprovação.
Pois foi só dar sinal verde para uma reforma no ensino
público estadual e o inferno se fez presente.
Fica difícil imaginar quem foi o responsável pela gigantesca
falha de implantação de uma reforma importante que tinha como principal objetivo
reordenar o ensino, acabar com salas ociosas e, principalmente, dividir os
alunos por ciclos, de modo que cada escola tivesse alunos da faixa etária que
estivessem cursando o mesmo ciclo. As escolas que ficassem ociosas – as tais
que “fechariam”, conforme muito se disse por aí – seriam reaproveitadas para
creches e outros equipamentos públicos
que necessitam de prédios. E cada aluno não ficaria a mais de 1,5 km da escola
que frequentaria.
Um projeto como esse exige planejamento de gente grande,
muitas reuniões de convencimento de lideranças, de políticos de todos os
partidos para que os radicais fiquem isolados e de muita conversa com alunos (a
infiltração de partidecos políticos na massa estudantil atinge apenas a minoria
e não fica difícil isolá-los também).
Mas tudo isso exige muito trabalho, ainda mais que os
professores – que também fazem parte da população a ser convencida – têm uma
entidade de classe cujo objetivo maior não é atender a clientela sindicalizada e
sim derrubar o PSDB do domínio paulista e colocar o PT governando o maior
estado do Brasil.
Pois parece que Alckmin deixou a coisa toda unicamente para
a Secretaria de Educação que, convenhamos, não deve ter a estrutura política e
de relações institucionais para realizar a preparação de todos os campos para a
implantação do projeto.
O resultado foi o desastre a que todos assistimos. Se
Alckmin achou, por conta própria, que o projeto seria implantando sem
dificuldades, ele desconhece totalmente a
esquerda raivosa que quer derrubá-lo a qualquer custo. Se foi convencido de que
a tarefa seria fácil, está pessimamente assessorado.
Foi tudo tão ruim que se alguém fizer uma pesquisa séria, hoje, sobre o que era a reforma pretendida pelo governo, a principal resposta vai ser que “o governador queria fechar um monte de escolas e deixar todos os alunos longe dos locais em que estudam”. A pesquisa vai descobrir também que “tudo não passa de uma armação do governo Alckmin para que o ensino púbico estadual seja privatizado”. Essa última resposta eu ouvi de um “educador” em entrevista à CBN.
O fato é o que governo paulista ofereceu de mão beijada a
bandeira que as esquerdas queriam para peitar o PSDB em São Paulo, com amplo
respaldo da imprensa – houve coberturas que nem a assessoria de imprensa do PT faria
melhor.
A radicalização do movimento já estava devidamente planejada
desde o momento em que os alunos nos prédios invadidos começaram a chamar as respectivas
turmas invasoras de “coletivos”. Em todas elas foi criada uma espécie de
aparelho para resistir, até sabe-se lá quando, a “devolução do bem expropriado
da direita burguesa”.
As fotos de “estudantes” (na verdade, muitos profissionais
desse tipo de movimento foram infiltrados para fazer a frente de luta)
enfrentando desarmados a PM, com bombas e cassetetes comendo solto, estampadas
nas primeiras páginas dos jornais ou na cobertura televisiva com amplos espaços
em horários nobres, podem ter estragado os últimos cinco anos de relações
públicas do governo Alckmin e causado sérios danos às suas pretensões políticas.
O que restou ao governo foi cancelar o projeto, perder um
secretário sério e um desgaste gigantesco que Alckmin dificilmente conseguirá
recuperar em sua plenitude. Corre risco até seu projeto de ser candidato a
presidente da República. Imagino que, por conta do péssimo trabalho realizado
com esse projeto, seu destino, daqui a dois anos, poderá ser não o de
protagonista de uma corrida presidencial e sim de coadjuvante, apoiando o candidato
do PSDB.
É isso aí, Ed, todo mundo criticando sem nem saber o que a tal reforma pretendia. E pelo jeito, pretendia coisas boas, sensatas e produtivas. Incrível falha de comunicação e de tino político, justo vindo de um político que de novato não tem nada.
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