quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Ah, o Chico...

Fui fã de Chico Buarque. Quem da minha geração e que entendia um pouco de política e desprezava ditaduras não foi? Sabia de cor a maioria de suas músicas, aguardava ansioso seu novo disco, tive em mãos a trilha sonora de “Calabar” que havia acabado de sair e cuja capa foi proibida e o disco recolhido no dia seguinte.  Arrependi-me de não ter comprado. Acabei comprando a versão seguinte, todo branco e com um “Chico Canta” escrito na capa.

Assisti a dois shows dele. Um na Unicamp, ginásio lotado, ganhei os ingressos para assistir nas cadeiras, primeiras fileiras. Saí como se tivesse presenciado um momento histórico. O segundo foi em São Paulo, numa casa de shows com mesas e serviços. Assisti tomando vinho e comendo queijos. Não gostei do espetáculo. Foi um Chico lado B que se recusava a fazer como grandes artistas fazem em shows em fim de carreira: brindam o público com seus grandes sucessos mesclado das músicas novas.  Chico engatou uma fieira de músicas novas, desconhecias e sem aqueles apelos costumeiros que costumava grudar nos ouvidos à primeira audição. Escrevi uma croniqueta na revista Metrópole, onde mantinha coluna domingueira e tasquei de título “Chico pro gasto”. Era isso, um show que era uma espécie de anticlímax: todo mundo esperava ouvir aquela música que queria cantar junto e ele vinha de estranhos amores que o público nunca tinha frequentado. Detalhe: o show aconteceu já no governo Lula e aquele Chico não era mais o mesmo que havia criado a trilha sonora da geração que não gostava da ditadura que nos oprimia.

Tudo bem, o Chico tinha um passado que ninguém poderia negar e deixei isso claro no texto que escrevi malhando o show. Mas o presente que vivíamos exigia um Chico atento às mazelas, que percebesse que o que estava acontecendo no Brasil não era o que se poderia chamar de governo voltado ao povo. Havia uma quadrilha no poder realizando “tenebrosas transações” e isso estava claro pra qualquer pessoa medianamente inteligente.

Mas Chico foi mais um daqueles velhos esquerdistas que insistem em dizer que a ditadura de direita é opressiva e a ditadura de esquerda é democrática. E ele não tem esse direito. Não tem porque é inteligente e importante. Outros artistas inteligentes e importantes também não têm esse direito, vamos deixar claros. Se Gilberto Gil, Caetano Veloso e outros do mesmo naipe (não falo dos globais que apoiam o lulopetismo porque parece que lhes falta um mínimo de inteligência) apoiam esse descalabro eleito pelo povo enganado pela propaganda e pela esmola social eles não estão querendo outra coisa que não seja perpetuar a miséria, a pobreza, o fascismo de esquerda e a infelicidade geral da nação.

É duro para alguém como eu, que começou a entender a política brasileira em plena ditadura militar e que teve na geração de artistas que brotaram nos anos 1960 verdadeiros baluartes na luta contra a opressão, escrever que Chico, Caetano e Gil não passam hoje de velhos milionários acomodados em suas ideologias atrasadas, retrógradas e discricionárias, que desgraçaram inúmeros países pelo mundo afora e foram responsáveis por algumas centenas de milhões de mortes por “crimes de opinião”.

O PT hoje é uma mistura dessa ideologia atrasada e violenta acrescido da sacanagem explícita de roubar o dinheiro dos impostos e se manter na poder a qualquer custo. Não dá pra definir o que estão fazendo com o Brasil em outras palavras.

Chico Buarque, principalmente, não pode ter ficado burro e cego. Se apoia esse governo – cujos dirigentes, se a lei funcionar, o que é raro no Brasil, deverão apodrecer na cadeia – merece sim ser questionado na rua, no restaurante, no boteco ou na praia. Ele é importante e sua opinião também. Se escolheu o lado que desgraça o povo brasileiro tem de responder por isso. Abandonar os princípios que o nortearam (e nos nortearam também) durante os anos de chumbo da ditadura tem seu preço. E ele está sendo cobrado como todos que apoiam essa desgraça fechando os olhos para o mar de lama que envolve o governo brasileiro. Não dá pra perdoar, por mais que gostemos de sua obra musical. 

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