domingo, 6 de dezembro de 2015

O grande erro de Alckmin



O governador Geraldo Alckmin (PSDB) está parecendo aquele personagem da Escolinha do Professor Raimundo, que responde tudo certo, mas erra na última resposta e estraga tudo.
Pois Alckmin fez isso em 2015. Eleito em primeiro turno ano passado, dando uma surra histórica no PT, estava fazendo o governo que dele se espera, sem muitos arroubos, com muitas obras e surfando em percentuais altamente positivos de aprovação.

Pois foi só dar sinal verde para uma reforma no ensino público estadual e o inferno se fez presente.

Fica difícil imaginar quem foi o responsável pela gigantesca falha de implantação de uma reforma importante que tinha como principal objetivo reordenar o ensino, acabar com salas ociosas e, principalmente, dividir os alunos por ciclos, de modo que cada escola tivesse alunos da faixa etária que estivessem cursando o mesmo ciclo. As escolas que ficassem ociosas – as tais que “fechariam”, conforme muito se disse por aí – seriam reaproveitadas para creches  e outros equipamentos públicos que necessitam de prédios. E cada aluno não ficaria a mais de 1,5 km da escola que frequentaria.

Um projeto como esse exige planejamento de gente grande, muitas reuniões de convencimento de lideranças, de políticos de todos os partidos para que os radicais fiquem isolados e de muita conversa com alunos (a infiltração de partidecos políticos na massa estudantil atinge apenas a minoria e não fica difícil isolá-los também).

Mas tudo isso exige muito trabalho, ainda mais que os professores – que também fazem parte da população a ser convencida – têm uma entidade de classe cujo objetivo maior não é atender a clientela sindicalizada e sim derrubar o PSDB do domínio paulista e colocar o PT governando o maior estado do Brasil.

Pois parece que Alckmin deixou a coisa toda unicamente para a Secretaria de Educação que, convenhamos, não deve ter a estrutura política e de relações institucionais para realizar a preparação de todos os campos para a implantação do projeto.

O resultado foi o desastre a que todos assistimos. Se Alckmin achou, por conta própria, que o projeto seria implantando sem dificuldades, ele  desconhece totalmente a esquerda raivosa que quer derrubá-lo a qualquer custo. Se foi convencido de que a tarefa seria fácil, está pessimamente assessorado.

Foi tudo tão ruim que se alguém fizer uma pesquisa séria, hoje, sobre o que era a reforma pretendida pelo governo, a principal resposta vai ser que “o governador queria fechar um monte de escolas e deixar todos os alunos longe dos locais em que estudam”. A pesquisa vai descobrir também que “tudo não passa de uma armação do governo Alckmin para que o ensino púbico estadual seja privatizado”. Essa última resposta eu ouvi de um “educador” em entrevista à CBN.

O fato é o que governo paulista ofereceu de mão beijada a bandeira que as esquerdas queriam para peitar o PSDB em São Paulo, com amplo respaldo da imprensa – houve coberturas que nem a assessoria de imprensa do PT faria melhor.

A radicalização do movimento já estava devidamente planejada desde o momento em que os alunos nos prédios invadidos começaram a chamar as respectivas turmas invasoras de “coletivos”. Em todas elas foi criada uma espécie de aparelho para resistir, até sabe-se lá quando, a “devolução do bem expropriado da direita burguesa”.

As fotos de “estudantes” (na verdade, muitos profissionais desse tipo de movimento foram infiltrados para fazer a frente de luta) enfrentando desarmados a PM, com bombas e cassetetes comendo solto, estampadas nas primeiras páginas dos jornais ou na cobertura televisiva com amplos espaços em horários nobres, podem ter estragado os últimos cinco anos de relações públicas do governo Alckmin e causado sérios danos às suas pretensões políticas.

O que restou ao governo foi cancelar o projeto, perder um secretário sério e um desgaste gigantesco que Alckmin dificilmente conseguirá recuperar em sua plenitude. Corre risco até seu projeto de ser candidato a presidente da República. Imagino que, por conta do péssimo trabalho realizado com esse projeto, seu destino, daqui a dois anos, poderá ser não o de protagonista de uma corrida presidencial e sim de coadjuvante, apoiando o candidato do PSDB.

Um comentário:

  1. É isso aí, Ed, todo mundo criticando sem nem saber o que a tal reforma pretendia. E pelo jeito, pretendia coisas boas, sensatas e produtivas. Incrível falha de comunicação e de tino político, justo vindo de um político que de novato não tem nada.

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