domingo, 6 de setembro de 2015

Mercadante e o discurso obsoleto


As críticas que se fazem a Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil e, teoricamente, o ministro mais importante do governo, têm sua razão de ser. E hoje, em entrevista à Folha, ele prova que não enxerga a realidade como ela deveria ser. Ou como ela é.

Se foi sincero em todas as respostas, ele não vê quase nenhum erro no governo Dilma, atribui a crise brasileira a uma crise mundial que já acabou faz tempo, erra ao dizer que os países emergentes sofrem as consequências da crise agora, atribui à oposição uma espécie de mágoa por não ter sido eleita e considera que o desejo de impeachment vem antes do fatos, o que é uma visão ingênua ou desonesta dos acontecimentos.

Sem contar que em relação à corrupção, nada diz sobre o envolvimento total do seu partido e governo, preferindo afirmar que nunca a Polícia Federal teve tanta liberdade para agir, sem olhar para o número inimaginável de casos de corrupção que o governo petista vem patrocinando ou como se o governo federal mandasse a PF investigar isso ou aquilo.

O cargo que Mercadante exerce é, como disse, teoricamente, o mais importante do governo depois do presidente. Ao chefe da Casa Civil sempre coube uma espécie de coordenação política do governo e de linha de frente nos projetos todos. O chefe da casa Civil manda nos ministros todos. Não à toa, José Dirceu pegou o cargo (não foi Lula que lhe ofereceu, obviamente) e, caso não entrasse nos anais do Código Penal Brasileiro, mandaria mais que Lula durante os oito anos de governo e se credenciaria a substituí-lo no lugar de Dilma. O Mensalão – que ele criou e chefiou, sem dúvida – ceifou-lhe a carreira imediata. E agora, o Petrolão, apagou-lhe qualquer pretensão. Era chamado de “todo-poderoso”, o que passa longe de vir a se constituir um apelido de Mercadante.

E a entrevista de hoje comprova que Mercadante, se teve algum poder um dia, foi obrigado, por incompetência de assumi-lo, a dividi-lo com coordenadores políticos que também não deram certo, ou por incompetência própria, como Jacques Wagner ou Edinho Silva, ou por ter outros planos, como Michel Temer, que não se casam com fazer meio de campo para outra pessoa. Renan Calheiros, efêmero na missão de apaziguar o Congresso, nem chegou a ser chamado de coordenador de coisa alguma. Não tem estatura moral ou política para nada.

Ao fim da entrevista fica a sensação de Mercadante é mais um a complicar a situação já complicada de um governo que não quis perceber a crise quando ela realmente existiu, que tapou o sol com a peneira fazendo arranjos orçamentários criminosos para garantir a reeleição, que patrocinou a maior corrupção da história brasileira e, talvez, do mundo, que hoje está tão sem rumo que não pode planejar nem a semana seguinte e que vê os movimentos de protesto rumo a um impeachment via Congresso ou cassação via Justiça cada vez mais próximos. Um governo que acabou enterrado na sua própria incompetência e desonestidade. E do qual Mercadante é uma de suas faces. 

Um comentário:

  1. Parece que quem mora em Brasília e está no poder não consegue enxergar o país, o dia a dia das pessoas e nem as agruras pelas quais o povo está passando. Não vai demorar muito para começarem as convulsões sociais. Aí eu quero ver o que eles vão fazer.

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