quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A justa indignação de todos nós

O artigo do blog hoje não é meu. É da minha amiga Monica Monteiro, jornalista, e foi publicado no Correio Popular de hoje. Ela aborda, com muita propriedade, um assunto cuja primeira crítica mais contundente eu escrevi há mais de dez anos, quando fazia a coluna Xeque-Mate no mesmo Correio Popular. De lá pra cá a coisa piorou e muito. Campinas é um paraíso para os pichadores, revelando que as autoridades pouco ligam para crimes desse tipo, pouco se importam em combater a ignorância que eles revelam e não estão nem aí com o patrimônio público e privado que é devastado com os garranchos desses imbecis com tubos de sprays de tinta em suas patas. Segue o artigo da Monica.


Carta a um pichador

 Monica Monteiro

Ultimamente, tenho exigido dos meus neurônios um grande esforço na tentativa de entender o  motivo de os pichadores acharem tão atraente, divertido, desafiante e digno de peripécias o ato de pichar muros, monumentos, postes, portões. Esse meu esforço chegou ao ápice ao ver – quase comovida e muito indignada – a recém-pintada e linda Escola Carlos Gomes já pichada.

Vejam só: um adolescente gasta dinheiro para comprar tinta spray, sai de casa à noite – quando poderia estar namorando, conversando com os amigos ou mesmo estudando para ser “alguém na vida”, como falavam, acertadamente, acho, os antigos – e se dispõe a escalar prédios e pontes para deixar lá sua marca. Em geral, registre-se, garranchos feios, sujos e, para a maioria de nós, sem sentido.

Depois, se não foi pego pela polícia (o que ocorre raramente, é triste dizer) ou não caiu e quebrou a perna (outra ocorrência rara, mais uma vez infelizmente) desce, contempla sua “obra” e vai embora gratificado e orgulhoso pelo “feito”. 
Divulga entre os amigos, fotografa, coloca nas tais redes sociais e, sei lá, talvez até tenha seus cinco minutos de fama e consiga subir no conceito daquela menina cobiçada do bairro. Menina bonita mas, provavelmente, não muito inteligente, é forçoso registrar.

E então eu pergunto: qual é a vantagem, a grande valentia, a façanha representada por fazer um desenho asqueroso em “alguém” que não pode se mexer, gritar, correr, chamar ajuda ou se defender? Qual o valor de sujar uma pobre parede que está lá, parada, ou um monumento que há décadas permanece no mesmo local onde foi colocado e não pode nem fazer cara feia para o pichador?

Qual a grande coragem envolvida no ato da pichação que faz com o que o autor da porcaria dela se orgulhe? Já me explicaram que os garranchos têm significado para os “entendidos”, que os símbolos dizem a qual tribo pertence o pichador vitorioso. Quer dizer: a idiotice é compartilhada, sinal de que são muitos os idiotas adeptos da babaquice.

Mas tem o outro lado: nós, que nos sentimos esteticamente agredidos com as garatujas, que nos sentimos ofendidos em nossa cidadania e lamentamos por Campinas, a quem amamos, estar coberta de pichações, estamos perdendo a guerra porque não sabemos nos defender.

As paredes, muros, prédios e postes não podem reagir, mas nós podemos. E não basta a polícia, quando consegue flagrar os transgressores, levá-los para a delegacia, passar um sabão e entregá-los para os responsáveis. Que de responsáveis pouco parecem ter, já que não seguram em casa, nem educam, seus jovens.

Deveríamos, talvez, pagar na mesma moeda: colocar os pichadores em praça pública e cobri-los de tinta spray. Depois, quem sabe, atirar penas em cima dos adolescentes que, então, assim fantasiados de galinhas, seriam obrigados a limpar a sujeira feita. Responsabilizando-se não só pelo trabalho, mas também pelos produtos gastos. E, por fim, tiraríamos fotos que, aí sim merecidamente, seriam divulgadas em todos os facebooks da vida. Garanto que com dois ou três desses “happenings”, a cidade começaria a mudar e, em pouco tempo, seria outra. 

2 comentários:

  1. Ed, agradeço por vc tem estampado meu artigo neste seu espaço tão considerado. E também agradeço porque, fazendo isso, você mostra que partilha da minha indignação, como destacou no início. Aliás, estão sendo tantas as manifestações de apoio que fiquei pensando em todos nós, cidadãos indignados, deixarmos de ser impotentes e constituirmos, sei lá, uma "frente antipichação". O que seus leitores achariam desta ideia?

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  2. Eu odeio essas pichações, acho absurdas. Agora, eu fico pensando na propaganda oficial " Campinas ganha novas câmeras de monitoramento" " serão xistrocentas câmeras para aumentar nossa segurança". Eu me pergunto, como se dá o monitoramento? Quantos bandidos foram presos depois de observados pelas câmeras? Quantas pessoas treinadas e experientes são necessárias para acompanhar as imagens em tempo real de 50, 150, ou 200 câmeras? Eu acredito que mal conseguem monitorar o trânsito, isso, pra mim, é uma tremenda enganação. Pegar pichador em fragrante acredito que nunca ocorreu.

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