quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Dilma subiu no telhado

A intenção de Joaquim Levy deixar o governo – que Dilma Rousseff negou falando, em poucas linhas, 12 vezes a palavra “não” – jamais seria comentada se não fosse verdadeira. O ministro da Fazenda, ao contrário de outros que ocuparam o mesmo cargo, não consegue transformar suas ideias em ações concretas do governo. Pior: diz que vai fazer uma coisa e acaba sendo obrigado ou a não fazer ou a fazer outra completamente diferente. Está “prestigiado” segundo Dilma. Mas, em linguagem futebolística, um técnico “prestigiado” está a um passo da demissão.

A recusa de Eduardo Cunha (PMDB) entrar no joguinho proposto por Dilma (ridículo, por sinal) de botar a Câmara em busca da economia perdida para estancar a sangria do governo e reverter o déficit orçamentário, não aconteceria se Dilma tivesse ainda algum poder de barganha com o presidente da Câmara. Se o Planalto incentivou o processo contra Cunha na Lava Jato para intimidá-lo, o tiro saiu solenemente pela culatra: como a situação não pode ser revertida – a Lava Jato seria desmoralizada – 
Cunha não vai parar enquanto não conseguir tirar Dilma do poder.

O fim da Agenda Brasil – que foi sem nunca ter sido – é prova de que Renan Calheiros (PMDB) não leva muito a sério o que combina com Dilma. Posa de salvador da pátria quando sabe que a pátria, enquanto estiver nas mãos do PT, não pode ser salva. E ele mesmo não tem estofo moral para liderar as mudanças necessárias, mesmo porque essas mudanças passam por um Levy totalmente fragilizado e por uma economia que o governo petista se recusa a fazer, como o anunciado corte de 10 ministérios que já caiu no esquecimento.

A recusa de Michel Temer (PMDB) em voltar a ser o articulador político do governo escancara que se dizia à sorrelfa: o vice-presidente está definitivamente em outro campo, depois de ver que sua atuação para domesticar novamente o Congresso (ou pelo menos a Câmara) barrava nas negativas do Planalto para os acordos que ele acertava no Jaburu.

E Temer, segundo notícia estampada na Folha de hoje, sentiu que pode ser um novo Itamar Franco. Nunca é demais relembrar: a renúncia de Fernando Collor, em 1992, para escapar do impeachment que corria célere (e que foi consumado mesmo tendo ele renunciado) levou Itamar Franco à presidência. Ele chamou o PSDB para o governo, Fernando Henrique foi ministro das Relações Exteriores e, depois, da Fazendo, onde urdiu o Plano Real que, apesar do PT, vigora até hoje e foi responsável pela reinserção do Brasil no cenário econômico mundial, além de acabar com a inflação estratosférica, tirar milhões da miséria e fornecer as bases para o desenvolvimento que viria depois, já sob Lula.  

Se a situação hoje não é de inflação de 40% ao mês, se o país não está estraçalhado por vinte anos de ditadura e mais sete de Sarney e Collor, não se pode dizer que estamos muito distantes disso. A economia dá sinais diários de piora, a política perdeu o centro – não se sabe direito quem manda mesmo no país – a corrupção está muito maior – mais muito mesmo – do que foi com Sarney e Collor (esses dois, aliás, não por coincidência, são aliados do PT e não devem estar ensinando nada aos petistas e sim aprendendo como se rouba um país por inteiro); o povo está cada vez mais presente às manifestações de protesto contra o PT e clama por uma ordem no caos sem a petralhada no comando do que quer que seja.

E na área jurídica, o governo Dilma e o PT vão sendo encurralados um pouco por dia. A operação Lava Jato já deu mostras de que a corrupção transcende a Petrobras, atinge outras estatais e praticamente todos os ministérios. Falta pouco para que o coração do governo – vale dizer, da corrupção – seja atingido mortalmente e o mandato de Dilma acabe oficialmente. Porque formalmente não há mais o que esperar da governante. Confusa, sem apoio político, sem agenda positiva que consiga superar os fatos negativos, Dilma não governa desde quando entrou na campanha eleitoral, ano passado. Se a campanha com suas luzes e mentiras em rede nacional ainda enganava, se as pedaladas fiscais garantiam ainda a renda dos comprados pelos programas sociais, se a inflação ainda estava no teto da meta por conta das maquiagens n orçamento, isso tudo explodiu logo após as urnas eletrônicas confirmarem a vitória (duvidosa, diga-se) do PT e de Dilma.

Não fossem as instituições da economia brasileira fortes o suficientes, o país não teria resistido até agora. Mas chegamos a um ponto sem volta: Dilma já não governo e o PT é rejeitado até em congresso de oftalmologistas, como aconteceu ontem em Florianópolis (veja aqui https://www.youtube.com/watch?v=pE6tBFp6fcQ).

Não há mais governo, a economia está desandando, o PT é uma sombra do que foi, a Justiça fecha o cerco sobre o governo e Temer sentiu que chegou a hora dele. Que seja assim, porque contrariando o filósofo Tiririca, muito pior do que está pode ficar se o PT e Dilma continuarem no poder. 

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