A intenção de Joaquim Levy deixar o governo – que Dilma
Rousseff negou falando, em poucas linhas, 12 vezes a palavra “não” – jamais
seria comentada se não fosse verdadeira. O ministro da Fazenda, ao contrário de
outros que ocuparam o mesmo cargo, não consegue transformar suas ideias em
ações concretas do governo. Pior: diz que vai fazer uma coisa e acaba sendo obrigado
ou a não fazer ou a fazer outra completamente diferente. Está “prestigiado”
segundo Dilma. Mas, em linguagem futebolística, um técnico “prestigiado” está a
um passo da demissão.
A recusa de Eduardo Cunha (PMDB) entrar no joguinho proposto
por Dilma (ridículo, por sinal) de botar a Câmara em busca da economia perdida
para estancar a sangria do governo e reverter o déficit orçamentário, não aconteceria
se Dilma tivesse ainda algum poder de barganha com o presidente da Câmara. Se o
Planalto incentivou o processo contra Cunha na Lava Jato para intimidá-lo, o tiro
saiu solenemente pela culatra: como a situação não pode ser revertida – a Lava
Jato seria desmoralizada –
Cunha não vai parar enquanto não conseguir tirar
Dilma do poder.
O fim da Agenda Brasil – que foi sem nunca ter sido – é
prova de que Renan Calheiros (PMDB) não leva muito a sério o que combina com
Dilma. Posa de salvador da pátria quando sabe que a pátria, enquanto estiver
nas mãos do PT, não pode ser salva. E ele mesmo não tem estofo moral para
liderar as mudanças necessárias, mesmo porque essas mudanças passam por um Levy
totalmente fragilizado e por uma economia que o governo petista se recusa a
fazer, como o anunciado corte de 10 ministérios que já caiu no esquecimento.
A recusa de Michel Temer (PMDB) em voltar a ser o
articulador político do governo escancara que se dizia à sorrelfa: o
vice-presidente está definitivamente em outro campo, depois de ver que sua
atuação para domesticar novamente o Congresso (ou pelo menos a Câmara) barrava
nas negativas do Planalto para os acordos que ele acertava no Jaburu.
E Temer, segundo notícia estampada na Folha de hoje, sentiu que pode ser um novo Itamar Franco. Nunca é demais
relembrar: a renúncia de Fernando Collor, em 1992, para escapar do impeachment
que corria célere (e que foi consumado mesmo tendo ele renunciado) levou Itamar
Franco à presidência. Ele chamou o PSDB para o governo, Fernando Henrique foi ministro
das Relações Exteriores e, depois, da Fazendo, onde urdiu o Plano Real que,
apesar do PT, vigora até hoje e foi responsável pela reinserção do Brasil no
cenário econômico mundial, além de acabar com a inflação estratosférica, tirar milhões
da miséria e fornecer as bases para o desenvolvimento que viria depois, já sob
Lula.
Se a situação hoje não é de inflação de 40% ao mês, se o
país não está estraçalhado por vinte anos de ditadura e mais sete de Sarney e
Collor, não se pode dizer que estamos muito distantes disso. A economia dá
sinais diários de piora, a política perdeu o centro – não se sabe direito quem
manda mesmo no país – a corrupção está muito maior – mais muito mesmo – do que
foi com Sarney e Collor (esses dois, aliás, não por coincidência, são aliados
do PT e não devem estar ensinando nada aos petistas e sim aprendendo como se
rouba um país por inteiro); o povo está cada vez mais presente às manifestações
de protesto contra o PT e clama por uma ordem no caos sem a petralhada no
comando do que quer que seja.
E na área jurídica, o governo Dilma e o PT vão sendo
encurralados um pouco por dia. A operação Lava Jato já deu mostras de que a
corrupção transcende a Petrobras, atinge outras estatais e praticamente todos
os ministérios. Falta pouco para que o coração do governo – vale dizer, da
corrupção – seja atingido mortalmente e o mandato de Dilma acabe oficialmente.
Porque formalmente não há mais o que esperar da governante. Confusa, sem apoio
político, sem agenda positiva que consiga superar os fatos negativos, Dilma não
governa desde quando entrou na campanha eleitoral, ano passado. Se a campanha
com suas luzes e mentiras em rede nacional ainda enganava, se as pedaladas
fiscais garantiam ainda a renda dos comprados pelos programas sociais, se a
inflação ainda estava no teto da meta por conta das maquiagens n orçamento,
isso tudo explodiu logo após as urnas eletrônicas confirmarem a vitória
(duvidosa, diga-se) do PT e de Dilma.
Não fossem as instituições da economia brasileira fortes o
suficientes, o país não teria resistido até agora. Mas chegamos a um ponto sem
volta: Dilma já não governo e o PT é rejeitado até em congresso de
oftalmologistas, como aconteceu ontem em Florianópolis (veja aqui https://www.youtube.com/watch?v=pE6tBFp6fcQ).
Não há mais governo, a economia está desandando, o PT é uma
sombra do que foi, a Justiça fecha o cerco sobre o governo e Temer sentiu que
chegou a hora dele. Que seja assim, porque contrariando o filósofo Tiririca, muito
pior do que está pode ficar se o PT e Dilma continuarem no poder.
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