O fim do governo petista, cujo extermínio deve ser iniciado
nesta terça-feira, 29 de março, é, para mim, a realização de um sonho
ideológico que nasceu pouco antes de o PT de Campinas eleger Jacó Bittar, em
1988. O PSDB tinha sido fundado um ou doía anos antes, durante o primeiro
governo de Magalhães Teixeira e o ideário liberal da social democracia me era
muito mais simpático do que o esquerdismo sem rumo do PT. Ou com rumos totalitários que poderiam desaguar numa ditadura socialista.
O próprio Jacó não sabia direito o que fazer como prefeito
de Campinas. Tinha dirigido um sindicato pequeno e apenas isso. Comandou uma
greve na Replan com repercussão nacional, ficou famoso e se credenciou à
candidatura. Foi eleito na esteira de dois assassinatos, pela repressão,
durante uma greve de metalúrgicos da, se não me engano, Siderúrgica Nacional.
São Paulo, Piracicaba e Campinas, onde o PT tinha representações mais
organizadas, elegeram prefeitos petistas naquela eleição.
Eu trabalhava na TV Campinas e fui recebê-lo no estacionamento
interno quando ele chegou para a primeira entrevista como eleito. Já o conhecia
de pelo menos uma noitada regada a uísque na casa dele, junto com o
desembargador João Penido Burnier, e de algumas entrevistas como repórter da
Rádio Educadora, hoje Bandeirantes, uma delas feita com ele e o candidato do PT
a governador e que terminou num boteco perto da sede dos Petroleiros, regada a doses
de conhaque Palhinha ou algo parecido. O candidato era Lula.
Jacó só escolheu um – sim, apenas um - dos secretários do
seu governo. Todos os outros lhe foram impostos pelo partido. A secretaria de
Cultura, por exemplo, foi entregue ao atual assessor do Planalto para assuntos
internacionais, Marco Aurélio Garcia, cuja gestão foi um desastre completo. De
resto, todo o governo Bittar foi uma bagunça e durou só dois anos com o PT.
Jacó brigou com o vice (Toninho da Costa Santos desde o início), saiu do
partido, tentou fazer alguma coisa, mas ele próprio era totalmente despreparado
para o cargo. Aliou-se a Collor, a Quércia, foi para o PDT de Brizola, fez o
diabo, mas seu candidato à sucessão ficou em quarto lugar. Grama voltou à Prefeitura
em 93, eleito facilmente em 92.
A volta de Magalhães Teixeira, a derrubada de Collor, a
posse de Itamar Franco e a participação do PSDB no governo federal que
redundaria no Plano Real e na eleição de FHC foi uma sequência que, talvez, nem
os próprios simpatizantes tucanos sonhavam. O Brasil ganhava uma moeda, um
plano de estabilidade, brecava a inflação, tinha um presidente que sabia o que
dizer e, finalmente, um rumo a seguir.
Com a eleição de Lula em 2002, começou o pesadelo. As
críticas ao que havia de bom do governo anterior (e que o PT usaria a seu
favor, mas continuaria criticando), as odiosas falas de Zé Dirceu sobre “herança
maldita” que jamais existiu, as mentiras em série que os petistas vomitavam nas
entrevistas e nos discursos, compunham um cenário obscuro, cujo destino não era
muito difícil de imaginar.
Alguns poucos imaginaram que o Brasil ia piorar muito nas
mãos petistas. Reinaldo Azevedo, desde a finada revista Primeira Leitura (e
depois o blog que o levaria à merecida fama), Olavo de Carvalho, Millôr
Fernandes, alguns articulistas da Veja, Diogo Mainardi e alguns outros que só
conheci depois. Eu, na minha modesta coluna Xeque Mate, no ano 2000, fazia o
que podia. Lula foi eleito (mas perdeu
em Campinas) e iniciou o que seria a mais vergonhosa era que o Brasil sofreria,
em todos os sentidos. Sim, porque tudo que ele pode ter feito e que resultou em
melhorias para parcela da população, era de vidro e se quebrou. Os milhões de
favorecidos pelas esmolas distribuídas e tornadas moedas de troca eleitoral, hoje
estão voltando à miséria, com seus parcos benefícios sendo comidos pela inflação.
Só em 2015, mais de 4 mil e 600 fábricas e 100 mil lojas foram fechadas no
Brasil.
No plano internacional, a coisa só não foi pior porque o
primeiro mundo tem dirigentes educados que não costumam rir em públicos das
bobagens que outros presidentes dizem. Lula foi um orador fanfarrão, que era
mais visto como algo exótico produzido nos trópicos, jamais como o estadista
que ele queria aparecer. Nem como o operário que chegou ao poder para dar lição
aos políticos tradicionais ele pode posar: a riqueza acumulada muito acima dos
seus ganhos oficiais, prova que ele se apropriou do que não era seu, como
qualquer ladrão que chega ao poder.
O pesadelo continuou com a eleição de uma presidente que,
apesar de se dizer economista, (ela se dizia doutora também, mas não fez nada
mais, descobriu-se depois, que um curso de graduação), em muitos discursos
disparou a dizer frases sem sentido e se tornou alvo de chacota nacional. E suas
duas especialidades cantadas em prosa e verso pela propaganda petista – gerente
exemplar e especialista em energia – não eram nada mais que propaganda enganosa:
esteve ligada à Petrobras durante toda a era de trevas pela qual passou a
empresa, que agora agoniza com um passivo de meio trilhão de reais e com apenas
um quinto dessa quantia em caixa para tentar se reerguer. Sem contar o mar de lama
que se espalha por todo o Brasil, oriundo das práticas petistas de adotar o
Estado como seu e seus cofres como de uso pessoal de quem deles têm a chave.
A corrupção que começou no governo petista desde o primeiro
dia em busca de maioria no Congresso, grassou célere pela República toda. Cargos
e dinheiro jorravam pelos propinodutos cada vez maiores. Se faltavam cargos, a
generosa caneta petista os criava a baciadas, acomodando toda a militância que
passava a viver para o partido e não
para o governo – às custas do sacrifício de todos os brasileiros que produziam e
pagavam impostos.
Um governo tão pífio que não soube aproveitar a onda mundial
que colocou o Brasil como uma das maiores economias do mundo, resultado das
exportações agrícolas e minerais. Ao invés de fortalecer a produção dando-lhe a
infraestrutura necessária, o governo Lula preferiu tentar garantir a reeleição,
distribuindo dinheiro aos mais pobres, crédito fácil ao comércio e investimentos
em empresários escolhidos a dedo que depois seriam usados para financiar –
legal e ilegalmente – as campanhas eleitorais, além de deixar ricos vários
dirigentes partidários e sindicais.
O fim da negra era petista, que começa nesta terça-feira –
sem o PMDB nada mais restará ao lulopetismo a não ser assistir aos atos que
terminarão no impeachment da presidente e na posse de Michel Temer – é,
portanto, para mim, a realização de um sonho ideológico. Michel Temer é a
solução? Acho que não, como achava que Itamar Franco também não seria. A
política pode nos surpreender positivamente também, mas se Temer não andar direito, nossa voz, agora
mais forte, vai soar de novo: nas redes, nos jornais, na TV, nas rádios e nas
ruas. A luta por um governo decente começa retirando o que é sujo do poder. O
trabalho, depois de retirado o lixo, será o de reconstrução do país. E não será
fácil. Mas nenhum país chegou à condição
de primeiro mundo sem enfrentar grandes percalços. No Brasil não será diferente.
Depende de todos nós.
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