Sou um dos cinco fundadores da City Banda e, depois do
último Carnaval, andei sendo questionado, por alguns amigos, sobre a mudança de local do desfile, o
que parece já estar definido. Claro que não tendo mais nada a ver com a
organização da City, não tenho qualquer intenção de interferir no processo. O
que for decidido está decidido, quer eu concorde ou não. Zé de Oliveira e Paulinho,
mais Geraldo Jorge e outros que fazem parte da atual diretoria (a omissão de
nomes é por total desconhecimento de minha parte) têm todo o direito de botar a
banda onde quiserem.
Mas para quem me pergunta se a banda deve mudar o local de
desfile, saindo das ruas do Cambuí e indo para a Avenida Norte-Sul, que é o
local citado como alternativa, digo que não gostaria que isso acontecesse. E
acrescento: a City nasceu no Cambuí, adotou o nome do bar mais famoso da região
como uma homenagem ao nosso ponto de encontro, fez com que a pracinha criada em
frente ao bar quando da implantação do Projeto Rótula passasse a se chamar,
oficialmente, Largo da City Banda e tomou conta das ruas do bairro por mais de
duas décadas. Já é uma tradição da cidade incrustada no bairro. Não acho que
deva mudar.
Quando nós cinco – Paulinho, Zé, Tadeu, Geraldo e eu –
fundamos a cita cuja, ali na mesa 10 do City, a intenção era oferecer uma
alternativa à Toma na Banda, que andava mal das pernas e talvez nem saísse em
1995. Depois de decidido o nome (a sugestão foi minha, he, he) pensamos no trajeto
e concluímos que a City não deveria sair do Cambuí, deveria ser uma atração
local para o povo que mora e que frequenta o bairro. Aliás, dos cinco, à época,
só Tadeu e Zé moravam no Cambuí. Hoje acho que só o Zé.
E assim foi feito. No terceiro ano a City caiu de vez no
gosto de uma multidão. Trouxemos Jamelão pra alegrar a festa e mais de dez mil
pessoas se aglomeraram no Largo e saíram pelas ruas do Cambuí festejando o
Carnaval.
Nos anos seguintes a City só cresceu. Não me lembro o ano em
que saí da diretoria, mas foi quando mais de 20 mil pessoas apareciam todo ano pra brincar
na rua. Hoje, a conta ultrapassa os 30 mil foliões e a City, sendo só do Cambuí,
já é de Campinas inteira.
A mudança de bairro tem como justificativa exatamente o
sucesso da banda. O bairro já não comportaria um evento com 30 ou 40 mil
pessoas. Claro que ao fim da banda há sujeira pelo chão. Claro que ao fim da
banda já aconteceram brigas provocadas por alguns animais sobre duas patas cuja
presença é impossível evitar.
Ora, feiras livres também causam sujeira, tanto que, ao fim
de cada uma delas, a Prefeitura se incumbe de limpar a rua. E ninguém fala em
mudar as feiras de local por causa do lixo que elas provocam. O futebol tem
provocado muito mais brigas que a City (afinal futebol tem o ano inteiro) e
ninguém fala em mudar o local dos jogos por causa delas.
De resto, brigas podem acontecer em qualquer lugar que
ocorra um evento regado a alegria, cerveja, uísque, vodca, energéticos e
algumas drogas proibidas, como é fácil verificar. E sujeira vai ter sempre, já
que o campineiro não é exceção na falta geral de educação do brasileiro. Ou seja, por causa de sujeira ou de brigas, a banda não
poderia acontecer em lugar nenhum, certo?
Mas o que penso é que, saindo do Cambuí, a City Banda se
descaracteriza. Indo pra Norte Sul, então, ela passa a ser um “desfilão” numa avenida sem
casas, um montão de gente cantando pra ninguém, quase uma parada cívica de 7 de
Setembro ou algo parecido.
De banda de Carnaval, criada imitando as grandes bandas do Rio
(Ipanema, Leblon, Cordão do Bola Preta e outras – que sempre fazem o mesmo trajeto,
diga-se, e com públicos gigantescos), a City Banda vai passar a ser uma atração
carnavalesca pra inglês ver. É capaz de alguém querer botar arquibancadas na
Norte-Sul para o povo assistir sentado à banda passar. Não foi pra isso que ela
nasceu.
Quando pensamos nela tivemos em mente um Carnaval descontraído,
onde qualquer um pudesse entrar e se divertir. E o Cambuí se prestava a essa
liberdade, pois ali, além de ser o bairro que todos nós mais frequentávamos, era onde a diversão, em todos os sentidos, mais acontecia.
Não me lembro, claro, mas é bem provável que saí do City Bar
naquela noite do início do verão de 1994, assobiando o samba “Plataforma” de
João Bosco e Aldir Blanc, que deixo aqui como um pequeno protesto contra
aqueles que querem tirar a City Banda do seu berço.
Tem toda razão o Edmilson: a City Banda é do Cambuí e ninguém tasca. Quando me encontrar com o Zé de Oliveira, que é meu amigo, vou lançar o meu protesto. Já falei para a Elzinha, mulher dele, contra essa mudança. Temos que fazer coro ao Edmilson e evitar que essa tragédia aconteça, pois a City Banda ficará descaracterizada com a mudança.To com o Edmilson e não abro.
ResponderExcluirConcordo com tudo Edmilson, ele não deve sair do Cambui. Só de pensar assim, e ao criarem tantas dificuldades à alegria, me assusta. Desfilar em avenidas vazias de corações é um crime. A City tem que ficar onde o povo está, na sua origem, no seu embalo, com seus parceiros !
ResponderExcluir