segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Mariana e Paris: nada a ver

E não é que muita gente resolveu cobrar das pessoas que registraram suas indignações contra os atentados em Paris as mesmas atitudes em relação ao acidente em Minas Gerais que destruiu vilas, rios, flora e fauna em larga escala?


É incrível que essa gente não perceba a diferença entre um caso e outro. Pra começo de conversa, um caso acabara de acontecer e outro já tinha mais de uma semana, ou seja, o que se queria de um era toda informação possível e, do outro, saber das providências que estão sendo tomadas para salvar o que for possível da natureza e indenizar as vítimas de maneira que possam voltar a viver normalmente, pelo menos no que diz respeito aos aspectos materiais. E como vivemos no Brasil, sabemos como essas coisas se arrastam. Cabe, claro,  sempre cobrarmos das autoridades as providências.

Mas, comparar uma coisa com a outra, como se ambas merecessem atitudes iguais é de um absurdo que não tem tamanho.

Primeiro porque o que ocorreu em Minas não é um atentado contra os valores ocidentais e democráticos. Nem atentado foi, já que o rompimento da barragem não ocorreu por vontade de alguém. Aquilo foi obra ou do acaso – acidentes acontecem e foram registrados tremores de terra próximos à hora do rompimento – ou do desleixo de empresários e autoridades. Dos empresários por visarem o lucro acima de tudo e muitas vezes desdenharem a segurança em prol da produção, deixando normas e leis em segundo plano e não realizando todas as obras necessárias para garantir a segurança de todos. E das autoridades que são as incumbidas de fiscalizar o cumprimento das normas e das leis e acabam sendo corrompidas pelos trinta dinheiros da ocasião e fazem vistas grossas ao perigo.

Se os responsáveis pelo desastre em Minas não forem punidos, não serão os primeiros que, causando mortes e devastação saem impunes por contratarem caros advogados que conhecem os caminhos recursais todos da legislação brasileira e provocam um alongamento tão grande do julgamento que quando este acontece já não tem mais amparo legal para punições.

No Brasil, saibam todos, apenas 1% das multas aplicadas pelo Ibama são realmente pagas. 

Já o que ocorreu em Paris foi um atentado terrorista que visa acabar com nossos valores mais caros: a liberdade, a democracia, o direito de ser um ser humano único, de ter opinião, de ter ou não ter religião, de acreditar em deus, em deuses ou em nenhum deus, de convivência pacífica entre os povos, entre os diferentes, entre todos, homens e mulheres, todos com plenos direitos e vivendo em sociedade sobre uma lei maior, que garante essa convivência pacífica.

Tudo isso está em jogo hoje no mundo. O avanço do fanatismo islâmico, o mesmo há quase três mil anos, escancara um modo de vida onde o terror se impõe não apenas para a conquista de novo territórios, mas para a manutenção do poder. O povo é subjugado a adotar uma religião que tudo lhes proíbe, numa sociedade em que o macho é considerado superior à fêmea que se transforma em simples escrava reprodutora, possível de ser espancada ou mesmo morta se tentar desobedecer a seu homem. E há grupos islâmicos que se odeiam por seguirem profetas diferentes e se matam quando se encontram. Isso é selvageria e ignorância. A mesma selvageria que puxou o gatilho e detonou bombas sexta-feira passada. A mesma ignorância que considera Paris a capital do pecado e que, por isso, seu povo deve ser castigado.

Portanto, se você é daqueles que acham que todos os brasileiros deveriam cobrir suas fotos de lama nas redes sociais ao invés de botar as cores da bandeira francesa, pense um pouco mais: ninguém explodiu a barragem em Minas para matar a liberdade, matando pessoas que estavam cometendo o pecado de viver num país democrático. 

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