É incrível que essa gente não perceba a diferença entre um
caso e outro. Pra começo de conversa, um caso acabara de acontecer e outro já
tinha mais de uma semana, ou seja, o que se queria de um era toda informação
possível e, do outro, saber das providências que estão sendo tomadas para
salvar o que for possível da natureza e indenizar as vítimas de maneira que
possam voltar a viver normalmente, pelo menos no que diz respeito aos aspectos
materiais. E como vivemos no Brasil, sabemos como essas coisas se arrastam.
Cabe, claro, sempre cobrarmos das
autoridades as providências.
Mas, comparar uma coisa com a outra, como se ambas
merecessem atitudes iguais é de um absurdo que não tem tamanho.
Primeiro porque o que ocorreu em Minas não é um atentado
contra os valores ocidentais e democráticos. Nem atentado foi, já que o rompimento
da barragem não ocorreu por vontade de alguém. Aquilo foi obra ou do acaso –
acidentes acontecem e foram registrados tremores de terra próximos à hora do
rompimento – ou do desleixo de empresários e autoridades. Dos empresários por
visarem o lucro acima de tudo e muitas vezes desdenharem a segurança em prol da
produção, deixando normas e leis em segundo plano e não realizando todas as
obras necessárias para garantir a segurança de todos. E das autoridades que são
as incumbidas de fiscalizar o cumprimento das normas e das leis e acabam sendo
corrompidas pelos trinta dinheiros da ocasião e fazem vistas grossas ao perigo.
Se os responsáveis pelo desastre em Minas não forem punidos,
não serão os primeiros que, causando mortes e devastação saem impunes por
contratarem caros advogados que conhecem os caminhos recursais todos da
legislação brasileira e provocam um alongamento tão grande do julgamento que
quando este acontece já não tem mais amparo legal para punições.
No Brasil, saibam todos, apenas 1% das multas aplicadas pelo
Ibama são realmente pagas.
Já o que ocorreu em Paris foi um atentado terrorista que
visa acabar com nossos valores mais caros: a liberdade, a democracia, o direito
de ser um ser humano único, de ter opinião, de ter ou não ter religião, de acreditar
em deus, em deuses ou em nenhum deus, de convivência pacífica entre os povos,
entre os diferentes, entre todos, homens e mulheres, todos com plenos direitos
e vivendo em sociedade sobre uma lei maior, que garante essa convivência
pacífica.
Tudo isso está em jogo hoje no mundo. O avanço do fanatismo
islâmico, o mesmo há quase três mil anos, escancara um modo de vida onde o
terror se impõe não apenas para a conquista de novo territórios, mas para a
manutenção do poder. O povo é subjugado a adotar uma religião que tudo lhes
proíbe, numa sociedade em que o macho é considerado superior à fêmea que se transforma
em simples escrava reprodutora, possível de ser espancada ou mesmo morta se
tentar desobedecer a seu homem. E há grupos islâmicos que se odeiam por
seguirem profetas diferentes e se matam quando se encontram. Isso é selvageria
e ignorância. A mesma selvageria que puxou o gatilho e detonou bombas
sexta-feira passada. A mesma ignorância que considera Paris a capital do pecado
e que, por isso, seu povo deve ser castigado.
Portanto, se você é
daqueles que acham que todos os brasileiros deveriam cobrir suas fotos de lama
nas redes sociais ao invés de botar as cores da bandeira francesa, pense um
pouco mais: ninguém explodiu a barragem em Minas para matar a liberdade,
matando pessoas que estavam cometendo o pecado de viver num país democrático.
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