Desde a queda do muro de Berlim, a esquerda brasileira está
sem rumo. O fim do império socialista, com a queda da ditadura russa e dos
satélites soviéticos que se espalharam pela Europa Oriental, submetidos que
foram ao autoritarismo stalinista após a II Guerra Mundial, deixou a esquerda
europeia sem discurso, falida, esquecida num canto. Os que insistiram em manter
a pose acabaram sucumbindo diante da farta literatura que surgiu na democracia
russa. Arquivos abertos, os horrores do Grande Terror vivido na Rússia sob
Stalin – terror já ensaiado sob Lênin – calaram de vez aqueles que ainda diziam
ter o regime soviético algo de bom para a Europa. Não tinha. A esquerda radical
europeia ficou restrita a um percentual mínimo do eleitorado nas eleições seguintes.
Na própria Rússia, o Partido Comunista que sobreviveu – sim, a democracia
permite que até na Rússia, onde matou milhões, o PC continue existindo – não
consegue votos nem para ter voz forte no Legislativo.
No Brasil, onde a esquerda parece ter demorado muito mais
para perceber que o Muro de Berlim havia caído, a coisa agora degringolou de
vez.
E degringolou no pior dos cenários: com ela no poder. A
chegada de Lula com sua equipe neoliberal no comando da economia e radicais de
esquerda embutidos em outros setores do governo, transformou o Brasil numa
Torre de Babel que o sopro de vida dado pelo mundo durante alguns anos encobriu
e disfarçou.
Não era raro, durante os governo Lulas e menos ainda durante
esses anos de Dilma (que não é mais governo faz tempo) setores do partido criticarem
duramente o governo que apoiavam,
pedindo cabeças de ministros que não estavam nem aí para a “pátria socialista”.
Com o surgimento dos escândalos, a coisa começou a piorar
para a esquerda brasileira. Como justificar que um governo puro e sincero,
comandando por um semideus chamado Lula poderia sujar as mãos para comprar
deputados e partidos?
O negócio era usar as velhas e desonestas táticas de sempre
e negar tudo. Negar até diante da mais cabal evidência. Não, os dólares na
cueca estavam ali porque alguém da oposição colocou, por exemplo.
Assim, as negativas de Lula para a evidência do Mensalão
evoluíram de “eu não sabia”, para “eu fui traído”, culminando com “o que o PT
fez foi caixa 2, prática corriqueira em todos os partidos”. Era um Lula que
dava o mote – combinado com assessores de marketing e advogados – que a
militância ia repetir. Era a esquerda entrando em parafuso para justificar o
injustificável e, como prêmio, se manter no poder. Valer dizer, manter o
domínio geral e as boquinhas todas, espalhadas por todo o país.
Embora Lula tenha sido reeleito e sua popularidade chegado a
níveis altíssimos, seu governo era uma farsa. O discurso público passou a não
ser mais tão público assim: entrevistas eram raras e inaugurações eram
assistidas por plateia selecionada e qualquer protesto – entre os poucos realizados
nessas ocasiões – eram mantidos a distância segura. A corrupção corria solta e a união do governo petista com o
que de mais podre existia no Congresso e no país, compunham um cenário onde se
anunciava a tragédia diariamente.
A Operação Lava Jato que desvendou o maior esquema de
corrupção do mundo, acabou por enterrar definitivamente as pretensões da
esquerda de reconstruir um discurso que pelo menos servisse à maioria ignorante
das populações da América Latina.
Havia os Kirchner na Argentina, Chávez na Venezuela e
Morales na Bolívia para justificar alguma coisa. Havia. Hoje, do trio, apenas
Morales sobrevive quieto, sem arroubos. Cristina, a última Kirchner, derrotada
nas urnas, deve enfrentar uma fieira de processos por roubo do dinheiro público
e seu sucessor reconstrói a Argentina fazendo tudo que ela não queria fazer. Chávez,
morto, deixou um sucessor que não serviria nem para porteiro de boate de
terceira categoria e a Venezuela se afunda em crise sem precedentes, num
carnaval de corrupção violência contra a oposição e situações surrealistas que
nem o mais fanático dos esquerdistas conseguiria justificar.
A esquerda brasileira, diante do fim iminente da era
petista, agora se agarra a qualquer coisa para
tentar sobreviver. O roubo de bilhões
e bilhões de dólares da Petrobras não tem desculpa alguma; os prejuízos
bilionários dos fundos de pensão sob o PT, não têm desculpa; a relação promíscua
do PT e aliados com gigantescas empreiteiras, onde a propina era mais comum que
o cafezinho depois do almoço, não tem desculpa; as campanhas eleitorais petistas
movidas a dinheiro sujo arrancado a fórceps de vários ministérios e obras, não
tem desculpa.
Sem ter justificativa alguma para todos os crimes e vendo a
economia brasileira ir literalmente para o brejo, com inflação alta, desemprego
altíssimo, PIB despencando, grau de investimento caindo como um viaduto ou uma
ciclovia, a esquerda brasileira perdeu de vez a vergonha e, para tentar se
fazer de vítima de uma sociedade injusta, elegeu o discurso do “golpe” como seu
único caminho para esses tristes tempos.
Um golpe que não tem nada de golpe, diga-se. Que só existe
no plano da esquerda para ter algo que dizer após a queda. Que é uma mentira
tão descarada que até o Supremo Tribunal Federal teve de sair da rotina para
declarar que não há a mínima possibilidade de o que está ocorrendo no Brasil
ser um golpe.
Assim, o inevitável impeachment de Dilma e o fim da era petista
no poder terão como pano de fundo a maior farsa que a esquerda brasileira já
produziu e, talvez, uma das maiores farsas do mundo que uma ideologia pode
conceber.
Ao perder seu rumo, desde a queda do Muro de Berlim, a
esquerda brasileira teve a sorte ou o azar de chegar ao poder. E, como jamais
conseguiu construir um país digno, como jamais conseguiu governar numa
democracia, a esquerda mostrou literalmente que não tem limites morais ou
éticos quando se trata de se manter no poder: agarra-se à mais evidente das
mentiras e tenta sobreviver produzindo formidável farsa para a história.
A
esquerda acabou no mundo com o fim da União Soviética. O que restou dela no
Brasil foi seu pior extrato. Que deve estar vivendo seus últimos momentos antes
de um velório a que ninguém comparecerá e de um enterro que será comemorado
pela grande maioria do povo brasileiro.
Muito bom! Realmente os farsantes daqui que não cansam de nos "mandar estudar" deveriam, eles sim, ao menos folhear os arquivos do horror desde Lenin até Stalin.
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