sexta-feira, 22 de abril de 2016

A esquerda brasileira sem rumo

Desde a queda do muro de Berlim, a esquerda brasileira está sem rumo. O fim do império socialista, com a queda da ditadura russa e dos satélites soviéticos que se espalharam pela Europa Oriental, submetidos que foram ao autoritarismo stalinista após a II Guerra Mundial, deixou a esquerda europeia sem discurso, falida, esquecida num canto. Os que insistiram em manter a pose acabaram sucumbindo diante da farta literatura que surgiu na democracia russa. Arquivos abertos, os horrores do Grande Terror vivido na Rússia sob Stalin – terror já ensaiado sob Lênin – calaram de vez aqueles que ainda diziam ter o regime soviético algo de bom para a Europa. Não tinha. A esquerda radical europeia ficou restrita a um percentual mínimo do eleitorado nas eleições seguintes. Na própria Rússia, o Partido Comunista que sobreviveu – sim, a democracia permite que até na Rússia, onde matou milhões, o PC continue existindo – não consegue votos nem para ter voz forte no Legislativo.

No Brasil, onde a esquerda parece ter demorado muito mais para perceber que o Muro de Berlim havia caído, a coisa agora degringolou de vez.

E degringolou no pior dos cenários: com ela no poder. A chegada de Lula com sua equipe neoliberal no comando da economia e radicais de esquerda embutidos em outros setores do governo, transformou o Brasil numa Torre de Babel que o sopro de vida dado pelo mundo durante alguns anos encobriu e disfarçou.

Não era raro, durante os governo Lulas e menos ainda durante esses anos de Dilma (que não é mais governo faz tempo) setores do partido criticarem duramente o governo  que apoiavam, pedindo cabeças de ministros que não estavam nem aí para a “pátria socialista”.

Com o surgimento dos escândalos, a coisa começou a piorar para a esquerda brasileira. Como justificar que um governo puro e sincero, comandando por um semideus chamado Lula poderia sujar as mãos para comprar deputados e partidos?

O negócio era usar as velhas e desonestas táticas de sempre e negar tudo. Negar até diante da mais cabal evidência. Não, os dólares na cueca estavam ali porque alguém da oposição colocou, por exemplo.

Assim, as negativas de Lula para a evidência do Mensalão evoluíram de “eu não sabia”, para “eu fui traído”, culminando com “o que o PT fez foi caixa 2, prática corriqueira em todos os partidos”. Era um Lula que dava o mote – combinado com assessores de marketing e advogados – que a militância ia repetir. Era a esquerda entrando em parafuso para justificar o injustificável e, como prêmio, se manter no poder. Valer dizer, manter o domínio geral e as boquinhas todas, espalhadas por todo o país.

Embora Lula tenha sido reeleito e sua popularidade chegado a níveis altíssimos, seu governo era uma farsa. O discurso público passou a não ser mais tão público assim: entrevistas eram raras e inaugurações eram assistidas por plateia selecionada e qualquer protesto – entre os poucos realizados nessas ocasiões – eram mantidos a distância segura. A corrupção corria solta e a união do governo petista com o que de mais podre existia no Congresso e no país, compunham um cenário onde se anunciava a tragédia diariamente.

A Operação Lava Jato que desvendou o maior esquema de corrupção do mundo, acabou por enterrar definitivamente as pretensões da esquerda de reconstruir um discurso que pelo menos servisse à maioria ignorante das populações da América Latina.

Havia os Kirchner na Argentina, Chávez na Venezuela e Morales na Bolívia para justificar alguma coisa. Havia. Hoje, do trio, apenas Morales sobrevive quieto, sem arroubos. Cristina, a última Kirchner, derrotada nas urnas, deve enfrentar uma fieira de processos por roubo do dinheiro público e seu sucessor reconstrói a Argentina fazendo tudo que ela não queria fazer. Chávez, morto, deixou um sucessor que não serviria nem para porteiro de boate de terceira categoria e a Venezuela se afunda em crise sem precedentes, num carnaval de corrupção violência contra a oposição e situações surrealistas que nem o mais fanático dos esquerdistas conseguiria justificar.

A esquerda brasileira, diante do fim iminente da era petista, agora se agarra a qualquer coisa para 
tentar sobreviver. O roubo de bilhões e bilhões de dólares da Petrobras não tem desculpa alguma; os prejuízos bilionários dos fundos de pensão sob o PT, não têm desculpa; a relação promíscua do PT e aliados com gigantescas empreiteiras, onde a propina era mais comum que o cafezinho depois do almoço, não tem desculpa; as campanhas eleitorais petistas movidas a dinheiro sujo arrancado a fórceps de vários ministérios e obras, não tem desculpa.

Sem ter justificativa alguma para todos os crimes e vendo a economia brasileira ir literalmente para o brejo, com inflação alta, desemprego altíssimo, PIB despencando, grau de investimento caindo como um viaduto ou uma ciclovia, a esquerda brasileira perdeu de vez a vergonha e, para tentar se fazer de vítima de uma sociedade injusta, elegeu o discurso do “golpe” como seu único caminho para esses tristes tempos.

Um golpe que não tem nada de golpe, diga-se. Que só existe no plano da esquerda para ter algo que dizer após a queda. Que é uma mentira tão descarada que até o Supremo Tribunal Federal teve de sair da rotina para declarar que não há a mínima possibilidade de o que está ocorrendo no Brasil ser um golpe.

Assim, o inevitável impeachment de Dilma e o fim da era petista no poder terão como pano de fundo a maior farsa que a esquerda brasileira já produziu e, talvez, uma das maiores farsas do mundo que uma ideologia pode conceber.

Ao perder seu rumo, desde a queda do Muro de Berlim, a esquerda brasileira teve a sorte ou o azar de chegar ao poder. E, como jamais conseguiu construir um país digno, como jamais conseguiu governar numa democracia, a esquerda mostrou literalmente que não tem limites morais ou éticos quando se trata de se manter no poder: agarra-se à mais evidente das mentiras e tenta sobreviver produzindo formidável farsa para a história. 

A esquerda acabou no mundo com o fim da União Soviética. O que restou dela no Brasil foi seu pior extrato. Que deve estar vivendo seus últimos momentos antes de um velório a que ninguém comparecerá e de um enterro que será comemorado pela grande maioria do povo brasileiro. 

Um comentário:

  1. Muito bom! Realmente os farsantes daqui que não cansam de nos "mandar estudar" deveriam, eles sim, ao menos folhear os arquivos do horror desde Lenin até Stalin.

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