quarta-feira, 1 de junho de 2016

Uma figura intragável

Quando Jacó Bittar foi eleito prefeito de Campinas (1988), ele nomeou apenas um secretário. O resto foi nomeado pelo PT. Não havia programa de governo, os nomeados eram ruins em administração pública, havia radicais de esquerda que entraram no governo pensando que a “revolução” tinha começado e que o capitalismo estava por um triz.

Um desses radicais de esquerda era Marco Aurélio Garcia, esse mesmo que comandou a pior política externa que o Brasil já teve e que agora se arvora em arrotar críticas à tentativa de retomada de uma política séria pelo atual governo.

Como ele vinha da Unicamp (era diretor do arquivo do Arquivo Edgard Leuenroth e o arquivo era uma bagunça - fiz uma reportagem a respeito que até ajudou a melhorar a situação, mas até banheiros eram usados como salas para arquivar material) foi nomeado secretário de Cultura de Campinas. Sua primeira ação foi anunciar uma ópera húngara de um autor que ninguém conhecia por aqui e, do mesmo modo, ele não sabia onde encontrar as partituras. Mas mesmo assim a ópera foi anunciada e até os principais artistas que seriam contratados tiveram seus nomes divulgados. A dois meses da “estreia”, o então maestro da Sinfônica Municipal, Benito Juarez, foi conversar com o prefeito para saber das partituras, pois ele precisa iniciar os ensaios – aliás, já estavam atrasados. Benito, como regente da orquestra, era o diretor musical da ópera. Sem partituras, sem ensaio e sem mais tempo, a turma do secretário anunciou que a cantora principal estava doente e não poderia mais ensaiar e, assim, a ópera estava cancelada. Era mentira, claro, mas conseguiram se livrar do pepino provocado pela incompetência do turminha do Marco Aurélio Garcia.

Depois ele inventou uma Revista dos Trabalhadores. Bonita, bem editada, quatro cores, papel caro, edição de luxo. Conteúdo? Artigos e mais artigos, todos longos, dos coleguinhas do curso de História da Unicamp, de onde Garcia era oriundo. Custo? Enorme, claro, mas o Fundo de Cultua Municipal acabou arcando – e se esvaziando completamente – com as tiragens dos quatro ou cinco números que a revista sobreviveu. Sem anúncios (o plano era “captar publicidade que sustentará a publicação”), a revista teve vida efêmera.

E assim se passaram dois anos de uma inútil atuação de Marco Aurélio Garcia à frente da Secretaria de Cultura de Campinas. No início do terceiro ano de governo, Bittar rompeu com o PT e trocou todo o secretariado. Garcia foi na leva, para o bem da cultura de Campinas.

Pois esse infeliz personagem reapareceu quando Lula tomou posse. Como Assessor Especial para Assuntos Internacionais, ele passou a ditar as diretrizes da política externa brasileira. E só fez cagadas, com o perdão do termo, mas não encontro outro que se encaixe tão bem na sua gestão no governo federal.

O jornalista Reinaldo Azevedo fez uma lista das derrotas do Brasil no campo internacional durante o governo Lula. A lista é meio antiga, tem outras derrotas que não entraram, mas acho que a que vai a seguir já mostra bem o mico que o Brasil passou no mundo civilizado. Essas derrotas foram mais atribuídas a Celso Amorim (outro da mesma laia), mas Garcia era quem dava as ordens e Amorim obedecia. Atentem para o estrago:

NOME PARA A OMC
Amorim tentou emplacar Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do Comércio em 2005. Perdeu. Sabem qual foi o único país latino-americano que votou no Brasil? O Panamá!!!

OMC DE NOVO
O Brasil indicou Ellen Gracie em 2009. Perdeu de novo. Culpa do Itamaraty, não de Gracie.

NOME PARA O BID
Também em 2005, o Brasil tentou João Sayad na presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Deu errado outra vez. Dos nove membros, só quatro votaram no Brasil – do Mercosul, apenas um: a Argentina. Culpa do Itamaraty, não de Sayad.

ONU
O Brasil tenta, como obsessão, a ampliação (e uma vaga permanente) do Conselho de Segurança da ONU. Quem não quer? Parte da resistência ativa à pretensão está justamente no continente: México, Argentina e, por motivos óbvios e justificados, a Colômbia.

CHINA
O Brasil concedeu à China o status de “economia de mercado”, o que é uma piada, em troca de um possível apoio daquele país à ampliação do número de vagas permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A China topou, levou o que queria e passou a lutar… contra a ampliação do conselho. Chineses fazem negócios há uns cinco mil anos, os petistas, há apenas 30…

DITADURAS ÁRABES
Sob o reinado dos trapalhões do Itamaraty, Lula fez um périplo pelas ditaduras árabes do Oriente Médio.

CÚPULA DE ANÕES
Em maio de 2005, no extremo da ridicularia, o Brasil realizou a cúpula América do Sul-Países Árabes. Era Lula estreando como rival de George W. Bush, se é que vocês me entendem. Falando a um bando de ditadores, alguns deles financiadores do terrorismo, o Apedeuta celebrou o exercício de democracia e de tolerância… No Irã, agora, ele tentou ser rival de Barack Obama…

ISRAEL E SUDÃO
A política externa brasileira tem sido de um ridículo sem fim. Em 2006, o país votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas, no ano anterior, negara-se a condenar o governo do Sudão por proteger uma milícia genocida, que praticou os massacres de Darfur – mais de 300 mil mortos! Por que o Brasil quer tanto uma vaga no Conselho de Segurança da ONU? Que senso tão atilado de justiça exibe para fazer tal pleito?

FARC
O Brasil, na prática, declara a sua neutralidade na luta entre o governo constitucional da Colômbia e os terroristas da Farc. Já escrevi muito a respeito.

RODADA DOHA
O Itamaraty fez o Brasil apostar tudo na Rodada Doha, que foi para o vinagre. Quando viu tudo desmoronar, Amorim não teve dúvida: atacou os Estados Unidos.

UNESCO
Amorim apoiou para o comando da Unesco o egípcio antissemita e potencial queimador de livros Farouk Hosni. Ganhou a búlgara Irina Bukova. Para endossar o nome de Hosni, Amorim desprezou o brasileiro Márcio Barbosa, que contaria com o apoio tranquilo dos Estados unidos e dos países europeus. Chutou um brasileiro, apoiou um egípcio, e venceu uma búlgara.

HONDURAS
O Brasil apoiou o golpista Manuel Zelaya e incentivou, na prática, uma tentativa de guerra civil no país. Perdeu! Honduras realizou eleições limpas e democráticas. Lula não reconhece o governo.

AMÉRICA DO SUL
Países sul-americanos pintam e bordam com o Brasil. Evo Morales, o índio de araque, nos tomou a Petrobras, incentivado por Hugo Chávez, que o Brasil trata como um democrata irretocável. Como paga, promove a entrada do Beiçola de Caracas no Mercosul. Quem está segurando o ingresso, por enquanto, é o Parlamento… paraguaio!  A Argentina impõe barreiras comerciais à vontade. E o Brasil compreende. O Paraguai decidiu rasgar o contrato de Itaipu. E o Equador já chegou a sequestrar brasileiros. Mas somos muito compreensivos. Atitudes hostis, na América Latina, até agora, só com a democracia colombiana. Chamam a isso “pragmatismo”.

CUBA, PRESOS E BANDIDOS
Lula visitou Cuba, de novo, no meio da crise provocada pela morte do dissidente Orlando Zapata. Comparou os presos políticos que fazem greve de fome a bandidos comuns do Brasil.

IRÃ, PROTESTOS E FUTEBOL
Antes do apoio explícito ao programa nuclear e do vexame de agora, já havia demonstrado suas simpatias por Ahmadinjead e comparado os protestos das oposições  contra as fraudes eleitorais à reclamação de uma torcida cujo time perde um jogo.

Como se vê, o vexame foi enorme e Garcia estava por trás de todos eles. Agora, ele vem a público querer criticar a boa política externa que José Serra está tentando ressuscitar. Primeiro foi Dilma que falou que o Brasil agora fala grosso com a Bolívia e fino com os EUA. Talvez ela tenha se esquecido que a Bolívia roubou um refinaria inteira da Petrobras e o governo petista nada fez, aceitando o enorme prejuízo da forma mais covarde possível. Se o PT falava grosso com os EUA, duvido que os urros tenham chegado a Washington. Talvez nem tenham alcançado as fronteiras de Goiás.

Depois de Dilma, Garcia disse que está havendo um retrocesso, que a política de aproximação com o primeiro mundo é antiga e outras bobagens. Garcia, nas sua ignorância radical, não vê que o Mercosul foi um fracasso porque ao invés de um acordo econômico, passou a ser um órgão político e de esquerda. Que o Chile cresceu mais que todos no continente, porque esnobou o Mercosul e fez acordos bilaterais com países do primeiro mundo.

Garcia considera que avanço é apoiar ditadores africanos e latino-americanos, ajudar grupos terroristas islâmicos, se ajoelhar diante da Bolívia, da Argentina dos Kirchner e lamber o saco de, primeiro Hugo Chávez e, depois, dessa intragável figura que é Maduro.  

Enfim, Garcia é um desses imbecis que um país, se quiser crescer e ter um papel decente no mundo, tem de isolar. De preferência trancado nos banheiros da Unicamp que ele usava para guardar documentos do Arquivo Edgar Leuenroth que ele dirigia, na década de 1980.

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