quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Mais uma tragédia anunciada

A invasão de Campinas por hordas de sem-teto, incentivada principalmente durante o segundo governo de Chico Amaral (1997-2000), parece chegar ao seu auge por esses dias.

A invasão das regiões do Oziel e Monte Cristo, que teve até ônibus fretado para trazer famílias do ABC paulista para cá, foi o prenúncio de que Campinas tinha “espaço” e governantes frouxos o suficientes para que os movimentos que sustentam esses grupos por aqui aportassem e, sem resistência, conseguissem se firmar em terras que não lhes pertenciam.

Invasão, pura e simples, como tem acontecido por várias regiões do Brasil, principalmente as que são governadas por políticos que fazem oposição ao PT, pois, como se sabe, os movimentos que reivindicam habitação e terra são aliados do partido que há 13 anos está no poder. A aliança é tão descarada que, depois de 13 anos, os movimentos continuam lutando por moradia e terra, mas não culpam o PT pelo não atendimento às suas reivindicações.

Claro que, por trás do povo que luta por uma casa ou por uma terra, estão partidos de esquerda que os enganam, fazem dele massa de manobra e sonham com uma ditadura comunista onde, por milagres, todos esses problemas acabarão. Sabemos que não será por milagre e sim pela repressão: ditaduras – principalmente de esquerda, como nos mostra a história – não permitem reivindicações e prendem, torturam e matam quem discordar. Então os problemas “acabam”.

Mas voltemos a Campinas. Hoje Oziel e Monte Cristo são bairros devidamente legalizados, já que os proprietários das terras não tiveram outra saída a não ser vender o que havia sido invadido. Não sei de preços, espero que tenham sido justos.

Oziel e Monte Cristo, além de históricos – chegaram a ser uma das maiores invasões em área urbana que o mundo já viu – têm outro recorde a mostrar: assim que se instalou e percebeu que ali ia ficar, a criminalidade em Campinas, que já era preocupante, aumentou em cerca de 30%. A cidade teve de aumentar o policiamento, aumentar a vigilância particular e aumentar o medo que já sentia ao andar pelas ruas, a pé ou de carro.

No governo de Fernando Henrique Cardoso, um decreto que impedia que terras invadidas entrassem, pelos dois anos seguintes, em qualquer cota da reforma agrária, brecou bastante os movimentos. Claro que a negativa em repassar recursos a entidades que apoiavam os invasores também contribuiu bastante para o arrefecimento da situação. Com Lula tudo mudou: o decreto foi revogado e as entidades que repassavam ilegalmente verbas aos movimentos passaram a receber muito dinheiro.

Assim, a partir de 2003 (ano do descobrimento do Brasil, segundo Lula), proprietários de terras nos campos e nas cidades passaram a ser vítimas cada vez maior de um movimento que quer, nos seus devaneios socialistas, entre outras coisas, acabar com o agronegócio, responsável por cerca de 30% das nossas exportações.

Os governos de Campinas depois do Oziel e Monte Cristo passaram a olhar aquele favelão de alvenaria como um bom reduto de votos. Por ali se elegeu pelo menos um vereador e, dizem, os traficantes ali estabelecidos são dos mais poderosos na região.

Com a mamata estabelecida, era de se esperar que a região de Campinas fosse visada pelos grupos que comandam esses movimentos. A bola da vez é uma tal de Vila Soma, em Sumaré, cidade praticamente conurbada a Campinas. Ali, a invasão já dura três anos e só agora se expediu mandato de reintegração de posse. Houve tempo suficiente para que os invasores se organizassem melhor e se fortalecessem. E, claro, ganhassem o apoio de boa parte da imprensa, afinal o governo paulista e de Sumaré são do PSDB (a repressão é da Polícia Militar, estadual e um grupo acampou em frente à Prefeitura e diz que só sai de lá se a ordem judicial for revertida, como se a Prefeitura tivesse algo a ver com isso) e eles – governos - ficarão com o saldo negativo caso a retirada dos moradores acabe em violência.

E é isso mesmo que os invasores querem. Apesar a ordem judicial e das tentativas de acordo, , a horda se preparou para a guerra. A foto estampada hoje na primeira página do Correio Popular mostra bem a que ponto chegamos. Há um “exército” armado de paus, ferros, foices, machados, escudos e sabe-se lá o que mais, preparado para enfrentar a polícia caso ela tente fazer valer a ordem judicial de reintegração da posse da terra aos seus legítimos donos.

Sim, há famílias com crianças por lá e caso a coisa degringole, a possibilidade de uma tragédia acontecer é grande.

Um dos coordenadores da ocupação é um professor – Ricardo Mendes Tomaz – que mora na ocupação há três anos. À reportagem do Correio Popular ele disse que “não descarta a possibilidade de mulheres e crianças na resistência armada”. E acrescentou essa pérola: “Vivemos uma democracia e não posso responder por nenhuma família. Se vai ter mulher e criança é a família que vai decidir”.

Pois parece que, além de expor mulheres e crianças a um risco iminente, o que denota enorme irresponsabilidade, Tomaz não sabe o que é uma democracia. Como coordenador, ele deveria tentar proteger mulheres e crianças de alguma violência que possa ocorrer. E deveria também, saber que, numa democracia, invasões de propriedades particulares não são permitidas pela Constituição.
Devia saber que a democracia implica no respeito à ordem e às leis e que a polícia representa o braço armado dessa democracia que só pode ser chamado a intervir quando a lei é desrespeitada. Não há casas para todo mundo? O governo federal é o maior culpado, mas parece que eles não querem culpar um aliado político. Ou, pior, querem acusar de violento um governo adversário do PT.

Daí o confronto ser mais importante para a organização do movimento. Torçamos para um acordo, caso contrário, a tragédia é praticamente inevitável. E, como tem acontecido amiúde nesse Brasil dominado por um governo sem rumo, os responsáveis maiores pela tragédia serão transformados em vítimas e ganharão enorme espaço na aparelhada imprensa brasileira.

2 comentários:

  1. O início da ocupação se deu no governo Magalhães Teixeira, as casas e barracos ficavam na margem do córrego. Não havia ruas, a água era distribuída por caminhões pipa para evitar o cólera. Os poucos caminhos foram destruídos pelas chuvas e os caminhões não passavam. Os ocupantes apoiados pelo vereador Cezar Nunes (PT) fecharam a rodovia Santos Dumont. Depois disso, a água voltou a ser distribuída e as ruas arrumadas. Também a SAR-Sul, Secretaria de Ação Regional Sul fez um levantamento e numerou as casas e barracos, chegou-se ao número de 835 unidades. Em seguida durante o governo Edivaldo Orsi decidiu-se que a Prefeitura somente iria inibir as invasões em áreas públicas, nas particulares a responsabilidade seria dos proprietários e da Justiça. No final do governo Orsi a invasão foi aumentando rapidamente, como você bem relatou, e explodiu. Na época o PT Carlos Signoreli e Tiãozinho negociaram com o Chico Amaral e este baixou um decreto de utilidade pública da área.

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    1. Sim, o início foi no governo de Magalhães, mas ele coibiu invasões em terra públicas e deixou com a Justiça as particulares. A Justiça determinaria a devolução das terras para os proprietários. Chico oficializou a invasão e a incentivou depois.

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