Dos 145 milhões de brasileiros que compõem a população
economicamente ativa – aquela que pode comprar alguma coisa pelo crediário –
mais de 1/3 dela, ou 37,9%, não está pagando em dia as prestações. São 55,3
milhões de consumidores que estão dentro da chamada inadimplência, aquela
situação em que o salário acaba antes de nele ser incluída a prestação do
carro, da tv de 50 polegadas, da geladeira duplex ou da passagem pra Miami
dividida em 12 vezes. A alimentação, o aluguel, a conta de luz, o condomínio, a
escola das crianças são prioritárias. E como a inflação está aumentando, muitos
desses itens estão comendo mais salário hoje do que no ano passado. E ai a
coisa aperta.
Mas poderia não ser assim. O problema foi o modelo adotado
pelo governo petista, desde 2004, que privilegiou o consumo interno e por ele
fez loucuras para que se mantivesse elevado. Como, a partir daquele ano, o
caixa do governo começou a se encher dos dólares oriundos das exportações, o
governo petista queimou etapas em nome do ganho eleitoral. Ao invés de dotar o
país de mecanismos que lhe garantiriam a competitividade no comércio exterior
para, depois, iniciar uma lenta e segura melhoria nas condições financeiras do
consumidor interno, quis fazer do consumo interno a mola propulsora do
desenvolvimento do Brasil segurando preços artificialmente e jogando dinheiro
no mercado para financiar os produtos.
Foi só o mundo entrar em crise econômica para as exportações
brasileiras diminuírem e não mais sobrar dinheiro para financiar a linha
branca, por exemplo, ou para renunciar ao IPI das montadoras.
Claro que a formidável corrupção que aumentou sensivelmente
os preços das obras públicas, a inacreditável besteira de causar prejuízos à
Petrobras ao não aumentar o preço dos combustíveis para agradar ao eleitor, a
sangria de capitais para ditaduras de esquerda, o paquidérmico e caro
ministério com 39 ministros para angariar apoios políticos e outras medidas do
gênero também contribuíram para a derrocada da economia.
Mas a tentativa de melhorar o consumo interno sem que as
condições para tanto estivessem colocadas foi uma espécie de crime contra todo
o país. Não foram poucos os analistas de economia que avisaram que a aventura
poderia durar pouco, que um eletrodoméstico dura bem mais que o prazo de
financiamento e que as pessoas com salários não muito elevados e que tiveram
acesso a financiamentos de automóveis de até 5 anos, costumam preservar o carro
por dez anos ou mais.
Assim, sem caixa suficiente para bancar a festa do consumo,
o governo petista começou a fazer água, deixando de pagar compromissos
internacionais, diminuindo a verba das embaixadas (há, hoje, dezenas delas em
greve, pedindo dinheiro para pagar alugueis no exterior), atrasando pagamentos
a empreiteiras locais, diminuindo o ritmo de programas importantes como a
construção de casas populares, cortando verbas das universidades, de programas de financiamento estudantil etc.
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