O advogado Luiz Edson Fachin foi sabatinado hoje na Comissão
de Constituição e Justiça do Senado. A sabatina é para que os senadores se
informem sobre seu conhecimento jurídico, suas posições políticas e seu
pensamento filosófico. Essas posturas serão a base para que ele julgue, tendo
como norte a Constituição, os processos que chegarem até ao Superior Tribunal
Federal, a mais alta corte de Justiça do país.
Fachin foi indicado, como manda a lei, pela presidente de
República. Para ser nomeado, o Senado precisa aprová-lo. Depois da sabatina,
acontecerá a votação no plenário, já marcada para dia 19 deste mês, terça feira
da próxima semana.
Depois de ouvi-lo por quase nove horas (se bem que boa parte
dessas nove horas foi usada pelos senadores), a impressão que se tem é que a
presidente escolheu para o STF um advogado tradicional, um homem de direita,
com bom preparo jurídico, respeitador das leis e, principalmente da
Constituição, contra a violência de qualquer movimento social, defensor da
família e da propriedade e contra o aborto.
De todas essas qualidades, apenas duas delas não deixam
dúvidas que Fachin as possui: tem um bom preparo jurídico e é contra o aborto
(pelo ausência de posição anterior sobre esse tema ficamos com a posição atual). Isso porque todas as
outras posições são recentes e se contradizem com o que ele escreveu e disse
nos últimos anos.
O advogado tradicional fica comprometido quando se sabe que
ele, tendo assumido um cargo de procurador do Estado do Paraná, exerceu
advocacia privada, o que era proibido por lei. Sua defesa para esse ato foi
fraca e perderia de goleada se fosse julgada por seus futuros pares no STF. Até
porque a lei era explícita e Fachin se defende usando um regulamento da OAB do
Paraná que não se sobrepõe à lei. Direito básico.
O homem de direita atual se perde na defesa de movimentos
sociais que praticam crimes como se ele posicionava até há bem pouco tempo, a
ponto de confirmar sua amizade com o líder do MST, cujo pensamento político
está à esquerda de Lenin, pra dizer o mínimo.
O respeitador das leis que ele fez questão de frisar que é,
se perde em textos em que ele agride os que elaboraram a atual Constituição,
dizendo, num artigo de 1986, que os mesmos iriam legislar em causa própria.
As defesas que já fez publicamente de invasões de
propriedades privadas pela turba do MST, comprometem seriamente Fachin atual,
que se diz contra toda e qualquer violência desses movimentos. De um artigo
dele: “Se, ao invés de a propriedade
rural ter uma função social, ela se tornar função social, concluir-se-á que não
há direito de propriedade sem o cumprimento dos requisitos da função social.
(...) Aqueles imóveis que estiverem produzindo (…) estariam sujeitos à
desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária.”
Sobre a família Fachin já escreveu ser favorável ao direito
adquirido da “amante”. Mas hoje afirmou que a família é aquela definida pela
Constituição, que é a “base da sociedade brasileira”.
Enfim, caberá aos senhores senadores decidirem se aceitarão
o jurista das duas caras. Uma do passado, “progressista” como a esquerda gosta
de dizer, alinhado com o PT, eleitor entusiasmado de Dilma (liderou
abaixo-assinado de juristas pela candidatura dela) e crítico da Constituição. Outra
mostrada nos últimos dias combatendo suas próprias ideias e discursando como se
fosse o juiz ideal para se sentar na cadeira que foi de Joaquim Barbosa.
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