O PT não tem jeito mesmo. Inconformado com a necessidade de
adotar medidas que, embora tenham ajudado, desde 1994, o Brasil a chegar à
situação que chegou ao ápice durante o governo Lula, não constam de seu ideário
ideológico, o partido divulga documento em que critica seriamente as medidas
adotadas pela presidente Dilma Rousseff na sua tentativa de rearranjar a
economia. Economia essa, diga-se, estragada por ela mesma.
A situação se torna mais curiosa ainda ao se constatar que a
situação só chegou ao ponto que chegou porque as medidas que agora o PT divulga
como necessárias – que são opostas ao, digamos, Plano Levy – são praticamente
as mesmas que levaram o país à beira da falência.
O único mérito no documento é mostrar que boa parte do PT se
mantém fiel ao seu projeto de destruição do insípido capitalismo brasileiro, o
que quase foi conseguido com o inacreditável Guido Mantega no comando da economia
e com o PT de Dilma no comando do país.
E não é mera coincidência que o documento parte de uma
entidade petista comandada pelo economista Márcio Pochmann, cria da Unicamp, cujo
Instituto de Economia é dominado pela esquerda que tem no desenvolvimentismo e
clientelismo à custa do Estado o norte para suas elucubrações. Não se entregam
jamais às gigantescas evidências mundiais que esse modelito jamais serviu a
país algum.
Segundo reportagem publicada na Folha, hoje, o texto começa
com uma visão que, digo eu, é totalmente errada da crise brasileira. Pois o
texto assinala que “as iniciativas do governo estão jogando o país em uma
recessão e que elas interessam a banqueiros e a fundos de investimento.”
Ora, o que jogou o Brasil numa recessão não foram as medidas
tomadas agora e sim a farra que começou no segundo governo Lula (encoberta pelo
grande fluxo de capital que por aqui aportou oriundo das exportações) e
prosseguiu no governo Dilma. Nessa segunda fase, a farra precisou ser encoberta
pelos malabarismos contábeis patrocinados por Mantega, pelas pedaladas fiscais
e pela mentira em rede nacional, a cargo de João Santana. O que se tem agora é
a necessidade de consertar o estrago e não a causa da recessão.
Ao assinalar que as medidas atuais interessam a banqueiros e
fundos de investimento, os signatários do documento se esquecem de que eles já vêm
lucrando há anos nos governo petistas, com os bancos batendo recordes com seus lucros
que ultrapassam 2 bilhões de reais por
trimestre.
Ora, um documento que nas primeiras linhas expõe duas
premissas erradas só poderá ser completado com remédios totalmente equivocados para
as doenças crônicas que a economia do Brasil sofre. Obviamente, não vai atacar
o cerne da questão, que é a falta de credibilidade, a insistência em manter uma
paquidérmica e caríssima máquina governista e a corrupção que se alastrou de
forma inacreditável no governo petista.
Depois de passear pelas teorias expostas inicialmente, e
cometer os erros costumeiros numa análise que começou errada, o documento entra
no campo político repetindo um mantra totalmente desonesto do PT, afirmando que
“o pacote fiscal deteriora o ambiente econômico e social, o que enfraquece o
governo e amplifica a crise política e as ações antidemocráticas e golpistas em
curso".
Na verdade, o pacote fiscal tenta, isto sim, fortalecer a base do
ambiente econômico, mas sofre restrições pela falta de confiança no governo. E,
definitivamente não, não há ações antidemocráticas nem tampouco golpistas em
curso. A oposição que, aliás, anda meio perdida, tem tomado o maior cuidado pra
fazer tudo dentro da lei, dentro da Constituição, justamente para não ser
acusada de golpista.
Mas para o PT, qualquer ação que que não for no sentido de
manter o poder em suas mãos, é chamado, de forma desonesta, de golpe. É até desnecessário
aqui citar o impeachment de Collor e os inúmeros pedidos de impeachment que o
PT patrocinou contra todos – sim todos! – os presidentes eleitos depois da ditadura
militar, prática que só cessou em 2003, quando Lula tomou posse.
No campo das sugestões, os signatários do documento parecem
não estar satisfeitos com a crise brasileira e querem ampliá-la, pois
recomendam os mesmos remédios que a causaram. Diz o texto que entre as ações para
"retirar o país da desastrada austeridade econômica em curso estão a baixa
dos juros, a retirada dos investimentos do cálculo de superávit primário, a
alteração do calendário do regime de metas de inflação e a regulação do mercado
de câmbio.”
Ora, querem que o país pratique juros baixos o que espantará
a atração de capitais necessários para financiar o país e pagar as dívidas em
títulos públicos. Sem eles, seria o tal do calote, com o país se fechando para
o mundo, com as conhecidas e tenebrosas consequências. Outra medida sugerida e que
provocaria calote é não economizar o dinheiro destinado a investimentos,
retirando-o do cálculo para o superávit primário.
Já a mudança das metas de inflação, que garantem que os
preços não disparem no mercado, seria um desastre para os consumidores de baixa
renda. Já a regulação do mercado de câmbio, provavelmente comprimiria o dólar artificialmente,
fazendo com que o real alcançasse um falso valor, provocando o câmbio paralelo
muito mais elevado e aumentando os preços do mesmo jeito.
Enfim, a Fundação Perseu Abramo, que assina o documento,
parece querer que tudo continue como estava, com o Brasil caminhando célere
para um fortalecimento do Estado que desaguaria num autoritarismo econômico e
isolamento mundial, cujas consequências são bem conhecidas em países
socialistas e, mais precisamente, no desastre que vem causando na Venezuela,
onde gêneros de primeira necessidade já faltam em todo o país e a população trava
uma guerra diária para consegui-los.
Assim, o PT que colocou o Brasil na crise, agora critica as
medidas tomadas para tentar sair dela, tomadas pelo governo eleito pelo próprio
PT. Mais sacana e mais desonesto é impossível.
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