A invasão de Campinas por hordas de sem-teto, incentivada principalmente
durante o segundo governo de Chico Amaral (1997-2000), parece chegar ao seu
auge por esses dias.
A invasão das regiões do Oziel e Monte Cristo, que teve até
ônibus fretado para trazer famílias do ABC paulista para cá, foi o prenúncio de
que Campinas tinha “espaço” e governantes frouxos o suficientes para que os
movimentos que sustentam esses grupos por aqui aportassem e, sem resistência, conseguissem
se firmar em terras que não lhes pertenciam.
Invasão, pura e simples, como tem acontecido por várias regiões do Brasil, principalmente as que são governadas por políticos que fazem
oposição ao PT, pois, como se sabe, os movimentos que reivindicam habitação e
terra são aliados do partido que há 13 anos está no poder. A aliança é tão
descarada que, depois de 13 anos, os movimentos continuam lutando por moradia e
terra, mas não culpam o PT pelo não atendimento às suas reivindicações.
Claro que, por trás do povo que luta por uma casa ou por uma
terra, estão partidos de esquerda que os enganam, fazem dele massa de manobra e
sonham com uma ditadura comunista onde, por milagres, todos esses problemas
acabarão. Sabemos que não será por milagre e sim pela repressão: ditaduras –
principalmente de esquerda, como nos mostra a história – não permitem reivindicações
e prendem, torturam e matam quem discordar. Então os problemas “acabam”.
Mas voltemos a Campinas. Hoje Oziel e Monte Cristo são
bairros devidamente legalizados, já que os proprietários das terras não tiveram
outra saída a não ser vender o que havia sido invadido. Não sei de preços,
espero que tenham sido justos.
Oziel e Monte Cristo, além de históricos – chegaram a ser
uma das maiores invasões em área urbana que o mundo já viu – têm outro recorde
a mostrar: assim que se instalou e percebeu que ali ia ficar, a criminalidade
em Campinas, que já era preocupante, aumentou em cerca de 30%. A cidade teve de
aumentar o policiamento, aumentar a vigilância particular e aumentar o medo que
já sentia ao andar pelas ruas, a pé ou de carro.
No governo de Fernando Henrique Cardoso, um decreto que
impedia que terras invadidas entrassem, pelos dois anos seguintes, em qualquer
cota da reforma agrária, brecou bastante os movimentos. Claro que a negativa em
repassar recursos a entidades que apoiavam os invasores também contribuiu
bastante para o arrefecimento da situação. Com Lula tudo mudou: o decreto foi
revogado e as entidades que repassavam ilegalmente verbas aos movimentos
passaram a receber muito dinheiro.
Assim, a partir de 2003 (ano do descobrimento do Brasil,
segundo Lula), proprietários de terras nos campos e nas cidades passaram a ser
vítimas cada vez maior de um movimento que quer, nos seus devaneios
socialistas, entre outras coisas, acabar com o agronegócio, responsável por
cerca de 30% das nossas exportações.
Os governos de Campinas depois do Oziel e Monte Cristo
passaram a olhar aquele favelão de alvenaria como um bom reduto de votos. Por ali
se elegeu pelo menos um vereador e, dizem, os traficantes ali estabelecidos são
dos mais poderosos na região.
Com a mamata estabelecida, era de se esperar que a região de
Campinas fosse visada pelos grupos que comandam esses movimentos. A bola da vez
é uma tal de Vila Soma, em Sumaré, cidade praticamente conurbada a Campinas.
Ali, a invasão já dura três anos e só agora se expediu mandato de reintegração
de posse. Houve tempo suficiente para que os invasores se organizassem melhor e
se fortalecessem. E, claro, ganhassem o apoio de boa parte da imprensa, afinal
o governo paulista e de Sumaré são do PSDB (a repressão é da Polícia Militar,
estadual e um grupo acampou em frente à Prefeitura e diz que só sai de lá se a
ordem judicial for revertida, como se a Prefeitura tivesse algo a ver com isso)
e eles – governos - ficarão com o saldo negativo caso a retirada dos moradores
acabe em violência.
E é isso mesmo que os invasores querem. Apesar a ordem
judicial e das tentativas de acordo, , a horda se preparou para a guerra. A
foto estampada hoje na primeira página do Correio Popular mostra bem a que
ponto chegamos. Há um “exército” armado de paus, ferros, foices, machados,
escudos e sabe-se lá o que mais, preparado para enfrentar a polícia caso ela
tente fazer valer a ordem judicial de reintegração da posse da terra aos seus
legítimos donos.
Sim, há famílias com crianças por lá e caso a coisa
degringole, a possibilidade de uma tragédia acontecer é grande.
Um dos coordenadores da ocupação é um professor – Ricardo Mendes
Tomaz – que mora na ocupação há três anos. À reportagem do Correio Popular ele
disse que “não descarta a possibilidade de mulheres e crianças na resistência
armada”. E acrescentou essa pérola: “Vivemos uma democracia e não posso
responder por nenhuma família. Se vai ter mulher e criança é a família que vai
decidir”.
Pois parece que, além de expor mulheres e crianças a um risco
iminente, o que denota enorme irresponsabilidade, Tomaz não sabe o que é uma
democracia. Como coordenador, ele deveria tentar proteger mulheres e crianças
de alguma violência que possa ocorrer. E deveria também, saber que, numa
democracia, invasões de propriedades particulares não são permitidas pela
Constituição.
Devia saber que a democracia implica no respeito à ordem e
às leis e que a polícia representa o braço armado dessa democracia que só pode
ser chamado a intervir quando a lei é desrespeitada. Não há casas para todo
mundo? O governo federal é o maior culpado, mas parece que eles não querem culpar
um aliado político. Ou, pior, querem acusar de violento um governo adversário
do PT.
Daí o confronto ser mais importante para a organização do
movimento. Torçamos para um acordo, caso contrário, a tragédia é praticamente
inevitável. E, como tem acontecido amiúde nesse Brasil dominado por um governo
sem rumo, os responsáveis maiores pela tragédia serão transformados em vítimas e
ganharão enorme espaço na aparelhada imprensa brasileira.
O início da ocupação se deu no governo Magalhães Teixeira, as casas e barracos ficavam na margem do córrego. Não havia ruas, a água era distribuída por caminhões pipa para evitar o cólera. Os poucos caminhos foram destruídos pelas chuvas e os caminhões não passavam. Os ocupantes apoiados pelo vereador Cezar Nunes (PT) fecharam a rodovia Santos Dumont. Depois disso, a água voltou a ser distribuída e as ruas arrumadas. Também a SAR-Sul, Secretaria de Ação Regional Sul fez um levantamento e numerou as casas e barracos, chegou-se ao número de 835 unidades. Em seguida durante o governo Edivaldo Orsi decidiu-se que a Prefeitura somente iria inibir as invasões em áreas públicas, nas particulares a responsabilidade seria dos proprietários e da Justiça. No final do governo Orsi a invasão foi aumentando rapidamente, como você bem relatou, e explodiu. Na época o PT Carlos Signoreli e Tiãozinho negociaram com o Chico Amaral e este baixou um decreto de utilidade pública da área.
ResponderExcluirSim, o início foi no governo de Magalhães, mas ele coibiu invasões em terra públicas e deixou com a Justiça as particulares. A Justiça determinaria a devolução das terras para os proprietários. Chico oficializou a invasão e a incentivou depois.
Excluir