Em 2012 o então presidente da Câmara, Pedro Serafim (PDT)
assumiu a Prefeitura de Campinas após a cassação de Hélio de Oliveira Santos
(PDT) e Demétrio Vilagra (PT), ambos cassados por corrupção. Era ano eleitoral,
Jonas Donizette (PSB), que hoje é prefeito, era candidato e o sindicato dos
servidores municipais estava na mão do seu partido.
Quando as negociações salariais começaram, a Prefeitura, comandada por
Serafim, avisou: por ser ano eleitoral, a lei impede que os salários sejam reajustados
além da inflação oficial. Portanto, mesmo que houvesse recursos não poderia reajustar salários além
do que manda a lei.
Mas Serafim resolveu ser candidato a prefeito também e,
sendo prefeito e tendo algumas obras e muitas medidas moralizantes para
mostrar, poderia atrapalhar os planos do então favorito Donizette.
Para desgastar a imagem do prefeito e tirar-lhe alguns
votos, o sindicato, nas mãos do PSB de Donizette, não teve dúvida em fazer
barulhentas assembleias no Paço Municipal, reivindicar um reajuste muito acima
da inflação e ignorar totalmente a lei que impedia aumentos maiores que a
inflação, fazendo uma greve que estava fadada ao fracasso.
E a greve foi mesmo um fracasso, mas durou mais de um mês,
se não me engano, com a imprensa cobrindo todo dia um movimento que se
restringia a algumas centenas de pessoas no Paço fazendo barulho o dia inteiro
e, de vez em quando, uma assembleia mixuruca no fim do dia.
Eu trabalhava no Departamento de Comunicação da Prefeitura e
todo dia produzíamos um boletim com os números da greve, baseados em relatórios
que chegava das diversas unidades municipais, principalmente escolas e postos
de saúde.
Em nenhum dia a adesão ao movimento chegou a 30% do total de
servidores da Prefeitura. A greve estava sendo feita basicamente por aqueles
que ficavam ali no Paço e por servidores da Educação e da Saúde, mas a imprensa, de modo geral, sempre afirmava que a
greve continuava, raramente noticiando que ela era feita por uma minoria. E com
sérios prejuízos aos mais pobres que não tinham recursos para deixar filhos com
babás para ir trabalhar ou para ir a um médico particular.
A greve acabou só depois que o sindicato considerou que a imagem
do prefeito havia sofrido desgaste suficiente.
Serafim, eu fui testemunha, repetiu
dezenas de vezes à imprensa o impedimento legal de atender à reivindicação de
reajuste salarial. Se atendesse, diga-se, ele poderia ter as contas rejeitadas
e ser cassado. Mas nenhum jornal ou rádio noticiava o absurdo de se manter uma
greve cuja principal reivindicação era totalmente impossível de ser atendida
pode determinação legal.
A coisa era tão descarada que o líder sindicar que comandava
a greve - Marionaldo Fernandes Maciel - foi nomeado por Donizette seu secretário
de Recursos Humanos.
E hoje, ao enfrentar uma greve que também pede um reajuste
salarial bem acima da inflação, com a diferença que o governo não está proibido
de atender à reivindicação, Donizette prova do próprio veneno.
O ex-presidente
do sindicato, agora seu homem de confiança no RH, que foi tão eficaz ao manter
uma greve absurda enganando muitos servidores e prejudicando os mais necessitados, hoje não sabe como estancar o
movimento grevista que tanto desgasta a imagem do seu patrão. Bem feito.
Bom, parece que é uma questão de opinião mesmo, porque a greve é um direito garantido para 10, 20, 30 ou 90% das pessoas. Então não é mais ou menos legítima pelo número, e sim pelo que foi reivindicado. Me parece que a coisa não foi tão engenhosamente fechada assim, primeiro porque o Pedro Serafim não perdeu apenas por causa da greve, e nem principalmente por ela. A população nem sempre se deixa levar por estes movimentos, que chegam até a incomodar e questionar a legitimidade disso. Além disso não fica claro se a greve foi mesmo "arranjada", como se supõe. E mesmo agora, a impressão que se dá é que também há poucas adesões, ou deve ser porque o serviço público é tão ruim que nem falta faz.
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