Editorial do Estadão de hoje aborda o absurdo prêmio dado pela FAO ao governo venezuelano. O diretor-geral da FAO, que decidiu o prêmio por “vitórias no combate à fome” é o brasileiro José Graziano, ex-ministro de Lula, no fracassado Programa Fome Zero. Uns
dias atrás ele foi reeleito para o cargo e saiu no Facebook como ex-aluno do
Culto à Ciência que, no momento, teria o cargo mais alto, motivo de orgulho
etc. e tal. Eu estudei no Culto à Ciência e, como muitos outros alunos de lá,
não tenho orgulho nenhum de Graziano. Tenho vergonha. Segue o editorial.
A FAO premia o desastre
Acordar cedo para entrar em fila é parte de uma nova
profissão na Venezuela, um país marcado pela escassez de remédios, alimentos,
produtos de higiene e muitos outros bens de consumo. Os profissionais da fila
compram e revendem qualquer produto recém-chegado ao varejo – normalmente com
preços tabelados, como leite, café, massas, farinhas, papel higiênico e
sabonetes. Esses profissionais são chamados de “bacacheros”, nome derivado de
bacacho, formiga tanajura. Pois o governo venezuelano acaba de ser premiado
pela FAO, a agência das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura, por
suas vitórias no combate à fome. O prêmio foi entregue pelo diretor-geral da
instituição, o brasileiro José Graziano da Silva, recém-reeleito para o posto.
Levado para o governo em 2003, pelo presidente Luiz Inácio da Silva, Graziano
deixou em janeiro do ano seguinte o Ministério Extraordinário de Segurança
Alimentar e Combate à Fome, virou assessor especial da Presidência e em 2006
ingressou nos quadros da FAO.
A maioria dos consumidores venezuelanos teve poucos motivos
para festejar o prêmio. Além das filas de sempre, outros assuntos chamaram sua
atenção nos dias seguintes – por exemplo, a paralisação de três fábricas
processadoras de trigo, por falta de matéria-prima. A federação dos
trabalhadores do setor denunciou a parada. Notícias como essa têm sido
frequentes. Apesar de sua enorme reserva de petróleo – uma das maiores do mundo
–, a Venezuela enfrenta escassez de dólares, um problema grave mesmo antes da
baixa dos preços de exportação. A moeda para importação é racionada e muitas
vezes distribuída de acordo com critérios políticos. Indústrias e empresas
comerciais têm paralisado ou reduzido atividades por falta de matérias-primas,
componentes e, em muitos casos, bens finais.
As façanhas econômicas do governo bolivariano são visíveis
nos principais dados macroeconômicos. O Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu 4%
em 2014. Deve encolher mais 7% neste ano e ainda 4% em 2016, prevê o Fundo
Monetário Internacional (FMI). Os preços ao consumidor subiram 68,5% no ano
passado e a alta se acelera. As estimativas do FMI apontam aumentos de 94,9% em
2015 e 78,4% em 2016 – números acumulados até dezembro. Em prazo mais longo, as
perspectivas continuam muito ruins. Em 2020, o crescimento econômico será nulo
e a inflação ainda passará de 75%. As projeções do Banco Mundial são
diferentes, mas de nenhum modo animadoras.
Bastam os números da inflação para desmentir qualquer
julgamento positivo sobre as condições de consumo e sobre a redução da pobreza.
Qualquer avanço conseguido em anos anteriores seria liquidado rapidamente pela
desenfreada alta de preços. Como preservar ganho social, quando o custo de vida
sobe tão velozmente e a crise econômica paralisa empresas e destrói empregos?
Em 2013, quando a variação do PIB ainda foi positiva, o crescimento ficou em
apenas 1,3%.
A política de redistribuição iniciada pelo presidente Hugo
Chávez produziu algum efeito enquanto havia dinheiro do petróleo para gastar.
Esse dinheiro foi gasto dentro e fora do país. O populismo para uso interno foi
complementado por uma dispendiosa diplomacia destinada à consolidação de um
espaço bolivariano. Cuba foi um dos países beneficiários dessa política. Sem
investimentos e sem um mínimo de prudência e de competência na política
econômica, o dinheiro acabou e a crise foi acelerada, nos últimos dois anos,
pela redução dos preços do petróleo.
O intervencionismo, o autoritarismo, o controle de preços e
o manejo político dos dólares explicam a maior parte do desastre. No começo do
ano, o governo de Maduro anunciou a instalação de sistemas biométricos de
identificação em supermercados, para limitar as compras e impedir a formação de
estoques. As consequências desses desvarios aparecem nas filas de cada dia, no
comércio paralelo, na inflação desatada e na paralisia econômica. Restam, a
favor da gestão bolivariana, os aplausos do governo do PT e do petista diretor
da FAO.
Prêmio pra Venezuela, concedido por um órgão que deveria combater a fome no mundo??? Inacreditável!
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